quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

O comportamento do tiranossauro rex

Introdução ao comportamento do tiranossauro rex

O tiranossauro rex reinava sobre os demais animais terrestres de sua época
© istockphoto.com / Christoph Ermel
O tiranossauro rex reinava sobre os demais animais terrestres de sua época
Em um dia típico do final do período cretáceo, mais de 65 milhões de anos atrás, uma batalha sangrenta está em curso à margem de um rio raso no que hoje é o Dakota do Sul. Dois gigantescos dinossauros da espécietiranossauro rex, os maiores e mais temíveis predadores da era, estão se atacando com choques de mandíbulas e chutes aplicados por pernas traseiras do tamanho de árvores. Por fim, um T. rex ganha vantagem e comprime as mandíbulas em torno da cabeça do outro combatente. Nem mesmo o crânio espesso e os poderosos músculos da vítima são capazes de resistir à potência da mordida esmagadora que se segue. O dinossauro vencido uiva em agonia e cai morto. O vencedor cambaleia para a densa floresta à margem do rio, deixando a carcaça dilacerada de seu adversário para apodrecer à beira do rio.
Ainda que a carne do tiranossauro logo se decomponha, seu esqueleto fica coberto por sedimento, camadas de areia, lama e partículas minerais finas depositadas pelo rio. Ao longo de milhões de anos, essas camadas são comprimidas por obra de novos depósitos sedimentares, e logo se tornam pedra. Ao longo do processo, vaza água para os ossos porosos, e isso deposita minerais que fazem deles fósseis. Com o tempo, o clima muda. O rio seca, e a floresta se torna pradaria. Por fim, vento, chuva e inundaçõesremovem a terra e criam uma planície árida. E a erosão incansável termina por revelar o esqueleto fossilizado do T. rex. 
Ainda que esse cenário seja imaginário, pode estar perto da realidade. Em 1990, a amadora caçadora de fósseis Susan Hendrickson, trabalhando no Dakota do Sul, descobriu os ossos preservados de um T. rex que pode ter morrido em uma batalha como a descrita e passado por fossilização também semelhante. Escavações por uma equipe do Instituto de Pesquisa Geológica  Black Hills, de Hill City, Dakota do Sul, logo revelaram restos bem preservados de um tiranossauro, com feridas na cabeça que podem ter resultado de um combate mortal. O fóssil, apelidado de Sue logo que foi descoberto, era o mais completo fóssil de T. rex já localizado, com cerca de 90% dos ossos presentes. Em 1997, o Museu Field de História Natural, de Chicago, adquiriu o fóssil de Hendrickson e em maio de 2000 o esqueleto reconstruído estava em exibição no museu. 
Enquanto os paleontologistas (especialistas em estudar animais do passado) do museu limpavam as rochas do esqueleto e preparavam os ossos para exposição, pesquisadores em outros locais estudavam os restos do T. rex para aprender mais sobre essas impressionantes criaturas. Eles estudaram cicatrizes de mordidas nos restos fossilizados de presas do T. rex e o conteúdo de fezes fossilizadas de tiranossauros (resíduos corpóreos sólidos). Os pesquisadores também empregaram dispositivos sofisticados de imagem para aprender mais sobre a anatomia dos dinossauros. E voltaram ao local de escavação para descobrir pistas sobre como vivia o T. rex. Ainda que restassem questões sobre isso em 2000, os esforços combinados de muitos investigadores já haviam levado a uma melhor compreensão sobre esses monstros do mundo pré-histórico.  

As primeiras pistas sobre um monstro do passado

O nome tiranossauro rex quer dizer "rei lagarto tirano", e não há dúvida de que essas criaturas reinavam sobre os demais animais terrestres da época. Hoje, 65 milhões de anos depois de sua extinção, são ainda um dos animais mais conhecidos do mundo, vivos ou extintos - uma besta feroz que capturou a fascinação do público por meio de incontáveis exibições em museus, reportagens, filmes e livros. 
A pesquisa científica sobre o T. rex, bem como a fascinação popular com ele, começou em 1902, quando o paleontologista Barnum Brown, do Museu Americano de História Natural, em Nova York, liderou uma expedição de busca de fósseis ao condado de Dawson, Montana. Em um patamar rochoso, Brown e sua equipe descobriram e escavaram um esqueleto parcial de um grande e desconhecido dinossauro. A equipe de Brown retornou em busca de novos materiais em 1903, e uma vez mais em 1905. No total, eles conseguiram recuperar a mandíbula inferior, partes do crânio, a espinha, o ombro, a pélvis, as patas traseiras e outros fragmentos do dinossauro em questão. Mas não conseguiram encontrar as patas dianteiras ou os ossos do pescoço do animal.
Estudos de restos fósseis do T. rex nos dão pistas de como viveram esses animais
© istockphoto.com / David Coder
Estudos de restos fósseis do T. rex nos dão pistas de como viveram esses animais

O chefe de Brown no Museu Americano, o paleontologista Henry Osborn, publicou a primeira descrição científica do dinossauro, e escolheu o nome tiranossauro rex. O fóssil de Brown se tornou o espécime de comparação para os tiranossauros, usado como base de descrição da espécie. Em 1906, Osborn determinou que outro espécime parcial localizado por Brown em 1900 também era um T. rex. Depois, em 1908, Brown e outros colegas escavaram um tiranossauro mais completo no condado de Dawson. Ainda que o Museu Americano pretendesse inicialmente preparar e exibir os dois esqueletos, vendeu o primeiro ao Museu Carnegie de História Natural, de Pittsburgh, Pensilvânia, onde ele continuava em exibição em 2000. 
Quando Brown e Osborn começaram a estudar o T. rex, o campo da paleontologia e o da geologia ainda estavam na infância. Osborn e seus contemporâneos sabiam que os dinossauros eram répteis mas não lagartos, como os cientistas os haviam descrito inicialmente no começo do século 19 (por tradição, porém, os paleontologistas continuam a usar o sufixo "sauro", ou lagarto em latim, para designar novos dinossauros). Mas Osborn fez alguns julgamentos incorretos ao avaliar a espécie recém-descoberta, que precisaram ser revisados posteriormente. Por exemplo, a idade que estimou para os espécimes de T. rex era de três a quatro milhões de anos, ou seja, mais de 60 milhões de anos incorreta. Nas décadas que se seguiram às descobertas originais, os cientistas aprenderam muito mais sobre a idade daTerra e a anatomia do T. rex e de outros dinossauros. 

Quando viveram os dinossauros

Os paleontologistas sabem hoje, por exemplo, que os dinossauros viveram pela maioria da era mesozóica (entre 248 milhões e 65 milhões de anos atrás), que os cientistas dividem em três períodos. Os dinossauros apareceram inicialmente cerca de 230 milhões de anos atrás, no período triássico (que se estendeu de 248 milhões a 213 milhões de anos atrás). Os maiores dinossauros que existiram, como o herbívoro braquiossauro, viveram no período jurássico (de 213 milhões a 145 milhões de anos atrás). O T. rex não apareceu antes da parte final do período cretáceo (de 145 milhões a 68 milhões de anos atrás), e era o maior dos membros de uma família de dinossauros carnívoros conhecida como tiranossaurídeos. O T. rex e seus parentes morreram junto com os demais dinossauros que existiram no planeta. 
Os palentologistas e geólogos também aprenderam que o mundo no qual o T. rex vivia era muito diferente do atual. Ao longo da maior parte do cretáceo, uma longa via marítima que se estendia do Ártico ao Golfo do México dividia o continente da América do Norte. A largura desse mar variava com as alterações no nível mundial da água marinha. Durante o reinado dotiranossauro, o mar se estendia a oeste até os limites ocidentais do atual Dakota do Sul, e a leste ele se estendia até o atual Wisconsin.  A região na qual o T. rex vivia, ao longo da costa oeste deste mar, era luxuriante e florestal, com pinheiros, acácias, bordos e plantas florescentes. E os dinossauros não eram os únicos moradores da região. As comunidades ribeirinhas e fluviais incluíam ampla variedade de peixes, anfíbios, lagartos, crocodilos e cobras. Pequenos mamíferos herbívoros compartilhavam da floresta com os dinossauros. 
Ao longo de décadas de escavações, os paleontologistas aprenderam muito sobre as características do T. rex. Por volta de 2000, os pesquisadores haviam descoberto restos de cerca de 40 tiranossauros, que variavam de espécimes juvenis a adultos. Cerca de 20 dos espécimes estavam bastante completos, e o maior deles excedia os 12 metros de comprimento. Como resultado dessas descobertas, o T. rex se tornou uma das espécies de dinossauros mais bem documentadas e conhecidas. 
Boa parte de nosso conhecimento sobre tiranossauros deriva do estudo de seus crânios, que tem até 1,5 metro de comprimento. As mandíbulas inferior e superior do T. rex ainda contêm os dentes grandes e pontiagudos que faziam dele um matador tão poderoso. Os dentes do T. rex, que são serrilhados nas extremidades mais ou menos como uma faca de pão, podiam exceder os 30 centímetros de comprimento. Mais de metade desse comprimento consistia das raízes, ancoradas a uma mandíbula maciça, o que dava grande força aos dentes. As características tornaram claro para os paleontologistas já desde o primeiro exame que o T. rex havia sido um dinossauro formidável.

Criando uma imagem mais clara do T. rex

Alguns aspectos do tiranossauro não eram tão óbvios, porém. Por exemplo, os primeiros paleontologistas não estavam seguros de como o T. rex se movimentava. As primeiras reconstruções de esqueletos do T. rex  o mostravam caminhando ereto e com a cauda apoiada no chão. Da mesma forma, as imagens em livros e nos museus mostravam as criaturas como ferozes, mas corpulentas e não muito ágeis. Por volta dos anos 70, porém, os paleontologistas haviam determinado, com base na forma e posição da pélvis e ossos das pernas do T. rex, que ele se movia com o corpo paralelo ao solo. O animal mantinha sua longa cauda erguida para contrabalançar o peso de sua imensa cabeça.
Outras pistas quanto à forma pela qual o T. rex se movia vieram de estudos de ossos de pernas nas quais tendões afixavam músculos aos ossos. A dimensão das marcas sugere que os músculos das pernas eram bastante poderosos - nada parecido com os de uma criatura que se movia lentamente. Longe de ser lerdo, os paleontologistas concluíram que o T. rex era muito ágil. Constatações semelhantes sobre a anatomia de outras espécies de dinossauros levaram os pesquisadores a concluir que os dinossauros em geral fossem animais ativos. 
Devido a essa nova interpretação, os paleontologistas começaram a repensar suas suposições sobre a fisiologia dos dinossauros. Eles presumiram por muito tempo que todos eles tivessem sangue frio, como os modernos répteis. A temperatura corporal de um animal de sangue frio acompanha a do ambiente, e seu nível de atividade acompanha a temperatura do corpo. Um lagarto, por exemplo, fica ativo quando o corpo está quente e letárgico quando ele esfria. Os animais de sangue quente, como os pássaros e mamíferos, mantêm temperaturas corporais relativamente constantes e, como os dinossauros, possuem anatomias que permitem vidas ativas. 

Carniceiro ou predador?

Ainda que restem algumas discordâncias sobre os dinossauros serem ou não animais de sangue quente, a maioria dos paleontologistas aceita, agora, a ideia de que os dinossauros eram criaturas ativas. E a maioria dos pesquisadores concorda com as provas de que o T. rex era ágil e rápido, demonstrando que ele fosse primordialmente um predador, um animal carnívoro que mata outros animais para se alimentar.
tiranossauro rex
© istockphoto.com / Allan Tooley
Os pequenos braços do T. rex não eram úteis na captura inicial de presas, mas eram úteis para ajudar a segurar a vítima ou manipular a carcaça
 
Ainda que o T. rex tenha sempre sido reconhecido como carnívoro, alguns paleontologistas argumentavam que ele talvez fosse apenas um animal carniceiro, ou seja, que se alimenta da carne de animais já mortos. Alguns pesquisadores adotaram posturas fortes quanto a isso, mas outros apontaram que entre os animais carnívoros modernos, poucos são exclusivamente predadores ou carniceiros. Os leões, por exemplo, são predadores, mas também se alimentam de carniça. Da mesma forma, os abutres são carniceiros, mas também matam presas. Consequentemente, a maioria dos paleontologistas, por volta dos anos 90, não usava mais esses rótulos estreitos para tentar descrever o tiranossauro. Em lugar disso, boa parte de suas pesquisas sobre o dinossauro tentava definir mais claramente de que maneira ele teria caçado suas presas. 
Se o T. rex era um predador, era necessário que tivesse velocidade ao menos igual à de suas presas. Para determinar que velocidade de corrida um T. rex poderia atingir, o paleontologista James Farlow, da Universidade Purdue, em Fort Wayne, Indiana, estudou as pegadas preservadas de diversos terópodes, o grupo de dinossauros (que inclui o T. rex), que caminhavam apenas sobre as patas traseiras. Farlow calculou a velocidade máxima provável dos animais ao combinar fatores como a extensão de sua passada, o comprimento de seus ossos e seu peso estimado. Alguns terópodes, concluiu o pesquisador, podiam correr a até 40 km/h. 
Em 1995, Farlow e John Robinson, físico da mesma universidade, calcularam a capacidade de corrida do T. rex. O tiranossauro tinha braços relativamente curtos - cerca de um metro  de comprimento - e eles não poderiam deter uma queda do animal em caso de perda de equilíbrio. Caso um T. rex caísse em velocidade de 40 km/h, a força com que ele atingiria o solo provavelmente causaria ferimentos fatais. Eles estimaram, assim, que os tiranossauros provavelmente não ultrapassavam os 35 km/h, mas isso não teria sido veloz o suficiente para apanhar a maioria dos dinossauros herbívoros da era. 
Os braços curtos do tiranossauro também  suscitaram outras questões sobre como o dinossauro caçava suas presas. Com um corpo de 40 metros, braços de um metro parecem virtualmente inúteis. E, de fato, o paleontologista John Horner, do Museu das Rochosas em Bozeman, Montana, alega que os braços do T. rex eram curtos demais até mesmo para ajudar o animal a capturar presas. Horner e alguns outros paleontologistas mencionaram essa limitação como prova de que o T. rex era carniceiro e não predador. 
Outros pesquisadores apontam, porém, que ainda que os braços do tiranossauro fossem curtos em relação ao corpo, não seriam necessariamente inúteis. O paleontologista Kenneth Carpenter, do Museu de História Natural de Denver, reportou provas em 1990 de que os braços eram bastante fortes. Carpenter e seus colegas examinaram as marcas de ossos fossilizados nos pontos em que tendões conectavam o bíceps ao osso. Os pesquisadores calcularam que um braço de tiranossauro arcaria com peso de até 180 kg. A maioria dos paleontologistas argumenta, assim, que se os braços não eram úteis na captura inicial de presas, eram úteis para ajudar a segurar a vítima ou manipular a carcaça.

Mandíbulas poderosas, olhos aguçados, olfato apurado

tiranossauro rex
© istockphoto.com / Klaus Nilkens
Os dentes do T. rex, que são serrilhados nas extremidades mais ou menos como uma faca de pão, podiam exceder os 30 cm de comprimento
De qualquer forma, a maioria dos pesquisadores concorda que o tamanho dos braços do T. rex era irrelevante para sua condição depredador. Sua velocidade, agilidade e poderosas mandíbulas teriam sido mais que suficientes para que ele capturasse e matasse presas. Em 1996, o paleontologista Gregory Erickson e seus colegas da Universidade da Califórnia em Berkeley criaram uma réplica hidráulica das mandíbulas do T. rex e testaram sua força em ossos de gado.Queriam determinar que força seria necessária para criar marcas de mordidas semelhantes às encontradas nos restos fósseis de um tricerátopo, umdinossauro herbívoro do período cretáceo. A equipe de Erickson determinou que a força da mordida de um T. rex teria sido de até 13,4 mil newtons. Tamanha força, aplicada pelos dentes fortes e serrilhados do animal, provavelmente tornaria sua mordida fatal.
Os predadores, além de sua capacidade de capturar e matar presas, tendem a ter visão superior, e os paleontologistas acreditam que a vista do T. rex provavelmente estivesse bem adaptada à caça. Os olhos do tiranossauro tinham mais ou menos o tamanho de uma bola de beisebol, e a maioria dos paleontologistas acredita que isso teria dado ao animal uma vista aguçada. Além disso, o crânio do T. rex era estreito e seus olhos eram voltados para a frente. Consequentemente, o campo de visão dos olhos se sobreporia, e isso provavelmente ofereceria percepção de profundidade ao T. rex, uma característica valiosa para perseguir presas. 
O T. rex provavelmente também era bom em farejar presas, porque tinha uma cavidade enorme para o bulbo olfativo, uma região na frente do cérebro que responde pelo senso de aroma. John Horner, em defesa da tese do tiranossauro carniceiro, alega que o T. rex usava esse faro apurado para localizar animais mortos. Mas outros pesquisadores argumentam que o faro teria igual importância em caçadas.
Em 1999, pesquisadores do Museu Field de Chicago perceberam com mais precisão a possível capacidade olfativa do T. rex. O museu enviou o crânio de Sue a um laboratório no condado de Ventura, Califórnia, operado pela fabricante de aviões Boeing. Os pesquisadores do laboratório criaram imagens de raios-X do crânio usando tomografia computadorizada. As imagens permitiram que os cientistas examinassem todo o crânio, seção após seção. Com essa vista aberta do interior do crânio, os pesquisadores foram capazes de perceber que o espaço para os nervos olfativos era muito maior que o previsto pelos paleontologistas. 

Outras descobertas sobre o T. rex

Os restos fósseis de outros dinossauros também ofereceram provas quanto aos hábitos predatórios do T. rex. O paleontologista comercial Peter Larson, que liderou a escavação de Sue, também descobriu o esqueleto de um dinossauro herbívoro conhecido como edmontossauro (uma das diversas espécies de dinossauros dotados de bicos semelhantes aos dos patos) que mostrava cicatrizes de uma mordida de T. rex curada. O fato de que os ferimentos tenham sido curados, afirmou Larson, era indicação de que o animal continuou vivo depois de sofrê-los. Assim, a mordida deve ter sido dada por um predador e não por um carniceiro - mas por um predador que não conseguiu concluir o abate. Além disso, Larson apontou que os ossos de Sue e de outro espécime de tiranossauro do instituto Black Hills, conhecido como Steven, contêm cicatrizes curadas de mordidas de T. rex. As criaturas sobreviveram a ataques de outros membros da espécie. As constatações indicam que o rei tirano pode ter tomado animais de sua própria espécie como presa ou ao menos lutado contra outros tiranossauros por território ou parceiros de acasalamento. 
As marcas de mordidas nas vítimas do T. rex são um bom exemplo das ricas pistas de fontes secundárias que os paleontologistas consideram a fim de compreender melhor o comportamento dos tiranossauros. Em 1992, Gregory Erickson estudou os padrões de mordidas de tiranossauros em fósseis de edmontassauros e tricerátopos para determinar como o T. rex comia. Ele concluiu que as marcas longas e fundas nos ossos foram deixadas quando o tiranossauro abocanhou a carne das vítimas e arrancou dos ossos. Cicatrizes paralelas menores em lugares apertados perto da espinha dorsal, acredita Erickson, resultam do uso dos dentes frontais apenas, pelo T. rex, para mordiscar pedaços de carne. 
Outra fonte de informação indireta útil sobre o T. rex são os coprólitos, ou fezes fossilizadas. O conteúdo de um coprólito  oferece pistas sobre a dieta e o sistema digestivo do animal do qual vieram as fezes. Em 1998, a paleontologista Karen Chin, da United States Geological Survey, e seus colegas reportaram suas descobertas com base na análise de um coprólito de T. rex. Dentro do grande coprólito, os cientistas descobriram ossos esmagados de dinossauros herbívoros. Eles também notaram que os ossos estavam manchados e que as extremidades quebradas estavam arredondadas, provavelmente por ação de fortes ácidos no estômago do tiranossauro.

Indícios dos parentes do T. rex

Os paleontologistas também examinaram os restos fósseis de dinossauros que eram estreitamente aparentados ao T. rex - outros membros da família dos tiranossaurídeos ou outros terópodes - a fim de preencher as lacunas no conhecimento sobre os tiranossauros. Caso os pesquisadores identifiquem alguma informação rara sobre um membro da família dos tiranossaurídeos, se tornam capazes de propor palpites informados sobre os demais integrantes da família. Por exemplo, os paleontologistas não encontraram indícios fósseis diretos que os informem que aparência tinha a pele do T. rex. Mas sabem que o gorgossauro, um parente do tiranossauro no cretáceo, tinha pele com escamas hexagonais de diferentes cores, porque encontraram impressões de pele fossilizadas para aquele dinossauro. A maior parte dos pesquisadores presume que a pele do T. rex fosse semelhante à do gorgossauro.
A descoberta na Mongólia de impressões de pele de outro dinossauro tiranossaurídeo, uma criatura conhecida como tarbossauro, foi reportada por Kenneth Carpenter em 1997. As impressões indicavam que o tarbossauro tinha uma dobra de pele solta por sob as mandíbulas. Carpenter teorizou que esse traço anatômico pode ter sido uma espécie de bolsa na qual o animal abrigava grandes porções de carne antes de engoli-la. Ele também sugeriu que a dobra de pele poderia ser um papo, uma peça solta de pele como a que existe em muitos animais modernos, entre os quais alguns répteis. Os papos dos répteis muitas vezes têm cores brilhantes, e podem ser importantes para os animais na atração de parceiros e na intimidação de rivais em disputas por território. Caso a pele solta sob a mandíbula do tarbossauro fosse um papo, talvez tivesse propósitos semelhantes. E o tiranossauro, primo do tarbossauro, talvez também tenha tido um papo (ou bolsa de carne, se é essa a hipótese correta).

Não mais solitário

Indícios obtidos em outras descobertas de dinossauros ofereceram provas adicionais sobre os modos comportamentais do T. rex. O paleontologista Robert Bakker, do Tate Museum, de Casper, Wyoming, reportou em 1998 sobre a escavação de um ninho pertencente ao alossauro, um ancestral terópode do T. rex que viveu no jurássico tardio e no início do cretáceo. Bakker descobriu restos de presas no ninho, prova de que os pais levavam comida para os filhotes. Bakker argumentou que, por mais ferozes que fossem o alossauro e o tiranossauro, eles podem ter vivido em famílias, e não como caçadores solitários, e podem ter tomado conta de seus filhotes. 
As escavações de Peter Larson no Dakota do Sul sustentam essa teoria. No local em que a equipe de Larson descobriu Sue, também foram localizados outros espécimes individuais de T. rex, entre os quais mais um animal adulto e dois jovens, que podem ter sido parte de um grupo.
O paleontologista Peter Currie, do Real Museu Tyrrell, em Drumheller, Canadá, desenvolveu teorias sobre o comportamento grupal dos tiranossaurídeos com base em investigações do albertossauro, um dinossauro do cretáceo semelhante ao T. rex. Em 1997, na província canadense de Alberta (da qual deriva o nome do albertossauro), Currie descobriu os fósseis de 10 albertossauros, que variavam de filhotes de cerca de cinco metros de comprimento a adultos de 10 metros. Currie concluiu que os albertossauros  e outros tiranossaurídeos viviam em grupos e caçavam juntos em matilhas. Ele argumentou que os animais mais jovens e mais esbeltos devem ter sido mais velozes que os adultos maduros, e portanto úteis para cercar possíveis vítimas.  
Em 1999, Baker escavou o primeiro esqueleto quase completo de um T. rex jovem, descoberta que reforçou a ideia de que os animais jovens já eram predadores ferozes. O tiranossauro juvenil, conhecido como Tinker, tinha dentes de tamanho semelhante aos de um adulto maduro. Por outro lado, embora Tinker tivesse cerca de dois terços do tamanho de um adulto quando morreu, seus ossos eram mais esguios, o que sugere que o jovem dinossauro tinha apenas um quinto do peso de um T. rex maduro. Portanto, Tinker deve ter sido um predador esbelto, rápido e mortífero - um membro perfeito para uma matilha de tiranossauros caçadores. 
Outros indícios de cooperação entre tiranossaurídeos oferecem provas indiretas de que eles cuidavam de animais feridos. Larson descobriu que Sue tinha um osso fraturado na perna, que se curou mas deve tê-la incapacitado por algum tempo. Larson sugere que o T. rex só pode ter sobrevivido com a ajuda de outros indivíduos, que levavam comida para alimentá-lo enquanto a perna se curava. 
Essas imagens de cooperação em grupo, vida familiar e dos hábitos de criação de filhotes do T. rex contrariam as primeiras descrições do tiranossauro, no começo do século 20, bem como as suposições que perduraram por muito tempo de que ele fosse um caçador solitário. As imagens tradicionais do T. rex no cinema e nos romances podem tornar difícil imaginar comportamentos diferentes para essa besta aterrorizante. E como o imenso esqueleto de Sue demonstrou na abertura de uma exposição no Museu Field, em 2000, o T. rex sempre despertará um senso de espanto diante de sua ferocidade letal. Mesmo assim, a evolução de nossa compreensão sobre o tiranossauro como criatura social, além de predador mortífero, faz com que ele nos pareça mais real. 

2 comentários:

  1. Nossa ler isso tudo? será que eu vou ter Ânimo?
    Eu administrador desse blogue, leio todas as minha postagens! acredita ? essa acima é muito atrativa, mas é grande de mais para um público que estuda como eu.

    ResponderExcluir