terça-feira, 29 de novembro de 2011

Relâmpago


Foto cedida NASA

O relâmpago é um dos fenômenos mais bonitos da natureza e também um dos mais mortais. Com as temperaturas dos raios sendo maiores do que a da superfície do Sol e com as ondas de choque se propagando em todas as direções, o relâmpago é uma aula de física.
Além de sua poderosa beleza, o relâmpago apresenta à ciência um de seus maiores mistérios: como ele funciona? Todos sabem que o relâmpago é gerado em sistemas de tempestades eletricamente carregados, mas a maneira como se dá essa carga ainda permanece obscura.
Neste artigo, veremos o relâmpago de dentro para fora, para que você possa entender o fenômeno.



O ciclo da água


Um aspecto do relâmpago que não é um mistério é o ciclo da água. Para compreender como funciona o ciclo da água, precisamos primeiro entender os princípios da evaporação e condensação.

  • A evaporação é o processo pelo qual um líquido absorve calor e o transforma em vapor. Um bom exemplo é uma poça d'água depois de uma chuva. Por que a poça seca? A água da poça absorve o calor do sol e do ambiente e escapa como vapor. "Escapar" é um bom termo para se usar quando se fala sobre evaporação. Quando o líquido está sujeito ao calor, suas moléculas se movem mais rapidamente. Algumas das moléculas podem se mover rápido o bastante para saírem da superfície do líquido e carregarem o calor na forma de vapor ou gás. Uma vez que deixa de ser líquido, o vapor começa a subir na atmosfera.
  • A condensação é o processo pelo qual o vapor ou gás perde calor e se transforma em líquido. Sempre que o calor é transferido, o vapor ou gás vai de uma temperatura maior para uma menor. Uma geladeira usa esse conceito para resfriar suas bebidas e comidas. Ela fornece um ambiente de baixa temperatura que absorve o calor de suas bebidas e comidas e leva esse calor embora, no que conhecemos como ciclo de refrigeração. A atmosfera age como uma imensa geladeira para gases ou vapores. Enquanto os vapores ou gases sobem, as temperaturas do ar ao redor deles diminuem cada vez mais. Logo, o vapor que levou embora o calor do líquido começa a perdê-lo para a atmosfera até condensar-se e transformar-se novamente em líquido.
Agora vamos aplicar esses conceitos ao ciclo da água.

A água ou a umidade da terra absorve o calor do sol e dos arredores. Quando já foi absorvido calor suficiente, algumas das moléculas do líquido podem ter energia o bastante para escapar do líquido e começar a subir para a atmosfera como vapor. Conforme o vapor vai subindo, a temperatura do ar ao redor vai diminuindo. O vapor, então, perde suficiente calor para voltar a ficar no estado líquido. A tração gravitacional da Terra faz com que o líquido "caia", completando, assim, o ciclo. É preciso observar que, se a temperatura do ar ao redor estiver baixa o bastante, o vapor pode se condensar e congelar em forma de neve ou de chuva com neve. Mais uma vez, a gravidade fará com que as partículas congeladas retornem à Terra.

As tempestades elétricas


Numa tempestade elétrica, as nuvens de tempestade estão carregadascomo capacitores gigantes no céu. A parte superior da nuvem é positiva e a inferior negativa. Ainda não se entrou num acordo na comunidade científica sobre como a nuvem adquire essa carga, mas a descrição seguinte oferece uma explicação plausível.



Capacitores
Um capacitor é um dispositivo elétrico que consiste de duas superfícies condutivas separadas por um meio isolante (dielétrico). Quando se aplica uma voltagem às superfícies, a energia é armazenada no campo elétrico resultante da separação de cargas das superfícies.
Você pode criar um simples capacitor separando duas folhas de papel alumínio com um filme plástico. A qualidade do capacitor é controlada pelo tamanho das duas folhas, pela qualidade de isolamento do plástico e por sua grossura: quanto mais próximas as duas folhas de alumínio estão, melhor é o capacitor. Um bom e grande capacitor pode facilmente armazenar eletricidade o bastante para derreter uma chave de fenda.
A nuvem funciona como um capacitor enorme. A parte superior e a parte inferior da nuvem são como as duas folhas de alumínio. Enormes quantidades de eletricidade podem ser armazenadas dentro desse capacitor.
No processo do ciclo da água, a umidade pode se acumular na atmosfera. Esse acúmulo é o que vemos como nuvem. As nuvens podem conter milhões e milhões de gotículas d'água e gelo suspensos no ar. Como o processo de evaporação e condensação continua, essas gotículas enfrentam muitas colisões com a umidade que está no processo de condensação, enquanto sobe. Além disso, a umidade que sobe pode se chocar com o gelo ou com a neve que está caindo em direção à terra ou que está na parte inferior da nuvem. A importância desses choques é que eles retiram os elétrons da umidade que está subindo, criando, assim, uma separação de carga.
Os elétrons recém arrancados se unem na parte inferior da nuvem, dando a ela a carga negativa. A umidade que está subindo e que acabou de perder um elétron carrega uma carga positiva para a parte superior da nuvem. Além dos choques, o resfriamentotem um papel importante. Quando a umidade que está subindo depara com temperaturas mais baixas na parte superior da nuvem e começa a gelar, a parte resfriada fica negativamente carregada e as gotículas que não estão congeladas se tornam positivamente carregadas. Nesse ponto, as correntes de ar ascendentes têm a capacidade de remover as gotículas positivamente carregadas do gelo e carregá-las para a parte superior da nuvem. A parte congelada restante normalmente desceria para a parte inferior da nuvem ou continuaria descendo até o chão. Combinando os choques com o resfriamento, podemos começar a entender como uma nuvem pode adquirir a separação extrema de carga que é necessária para que um relâmpago ocorra.


O campo elétrico


Onde houver uma separação de carga em uma nuvem, também haverá um campo elétricoassociado. Assim como a nuvem, esse campo é negativo em sua região inferior e positivo na superior.

A força ou intensidade do campo elétrico está diretamente relacionada à quantidade de carga reunida na nuvem. Como os choques e resfriamentos continuam acontecendo e as cargas da parte inferior e superior da nuvem aumentam, o campo elétrico fica cada vez mais intenso: tão intenso, na verdade, que os elétrons da superfície da Terra são afastados para o interior dela pela forte carga negativa da parte inferior da nuvem. Essa repulsão de elétrons faz com que a superfície da Terra adquira uma forte carga positiva.
Tudo que se precisa agora é de um caminho condutivo para que o inferior negativo da nuvem entre em contato com a superfície positiva da Terra. O forte campo magnético, sendo, de alguma forma, auto-suficiente, cria esse caminho.


Foto cedida NASA

A ionização do ar


A descrição que segue também é exatamente o que acontece quando usamos um gerador Van de Graaff. Se você gosta muito de brincar com relâmpagos, um VDG (gerador Van de Graaff) definitivamente é a forma mais segura para isso e pode proporcionar horas de diversão.

O forte campo elétrico "quebra" o ar ao redor da nuvem, permitindo que a corrente flua numa tentativa de neutralizar a separação de carga. A "quebra" do ar cria um caminho que provoca um curto-circuito na nuvem/terra como se houvesse uma longa vara de metal conectando-as. Veja como a "quebra" funciona.
Quando o campo elétrico se torna muito forte (na casa das dezenas de milhares de volts por centímetro), as condições são perfeitas para o início da "quebra" do ar. O campo elétrico faz com que o ar ao seu redor se separe em íons positivos e elétrons, assim o ar fica ionizado. Tenha em mente que a ionização não significa que há mais carga negativa (elétrons) ou positiva (núcleos atômicos positivos/íons positivos) do que antes. Essa ionização só significa que os elétrons e os íons positivos estão mais afastados do que estavam em sua estrutura molecular ou atômica original. Essencialmente, os elétrons foram retirados da estrutura molecular do ar não ionizado.
A importância dessa separação/retirada é que os elétrons agora estão livres para se mover muito mais facilmente do que podiam antes da separação; então, esse ar ionizado (também conhecido como plasma) é muito mais condutivo do que o ar (anteriormente) não ionizado. A capacidade ou liberdade de movimentação dos elétrons é o que faz que qualquer material seja um bom condutor de eletricidade. Muitas vezes os metais são citados como núcleos atômicos positivos cercados por uma nuvem de elétrons, o que faz de muitos deles bons condutores de eletricidade.
Esses elétrons têm uma mobilidade excelente, o que permite que a corrente elétrica flua. A ionização do ar ou do gás cria plasma com propriedades condutivas parecidas com as dos metais. O plasma é a ferramenta que a natureza tem para neutralizar a separação da carga em um campo elétrico. Os leitores familiarizados com a reação química do fogo se lembrarão de que a oxidação tem um importante papel.
A oxidação é o processo pelo qual um átomo ou uma mólecula perde um elétron ao se unir com o oxigênio. Resumindo, o átomo ou a molécula é modificado de um potencial positivo mais baixo para um mais alto. Bastante interessante, o processo de ionização (que cria o plasma) também acontece por meio da perda de elétrons. Com essa comparação, podemos ver o processo de ionização como a "marcação de um caminho" através do ar para que o relâmpago siga, parecido com cavar um túnel dentro de uma montanha para que um trem passe.
Depois do processo de ionização, o caminho entre a nuvem e o solo começa a se formar. A seguir, aprenda sobre "líderes escalonados", ou seja, canais (caminhos) de ar ionizado.
Líderes escalonados


Uma vez iniciado o processo de ionização o plasma se forma e o caminho não é criado instantaneamente. Na realidade, há muitos caminhos separados de ar ionizado se originando na nuvem. Eles são chamados de "líderes escalonados".



Os líderes escalonados se propagam em direção à Terra em etapas, que não têm que resultar numa linha reta. O ar pode não se ionizar igualmente em todas as direções. Poeira ou impurezas (qualquer objeto) no ar podem fazer com que o ar se "quebre" mais facilmente em uma direção, dando melhores condições para o líder escalonado alcançar a Terra mais rapidamente naquela direção. O formato do campo elétrico também pode afetar muito o caminho de ionização. Esse formato depende da localização das partículas carregadas, que, nesse caso, estão localizadas na parte inferior da nuvem e na superfície do solo. Se a nuvem for paralela à superfície da Terra e a área for pequena o bastante para que a curvatura da Terra seja insignificante, as posições das duas cargas se comportarão como duas placas paralelas carregadas. As linhas de força (fluxo elétrico) geradas pela separação de cargas serão perpendiculares à nuvem e à Terra.

Linhas de fluxo sempre irradiam perpendicularmente da superfície da carga antes de se movimentar em direção a seu destino (localização da carga oposta). Sabendo disso, podemos dizer que, se a superfície inferior da nuvem não for reta, as linhas de fluxo não serão uniformes. Tente o seguinte: desenhe dois pontos nas extremidades opostas de uma bola de basquete. Em seguida, desenhe, na bola, uma linha que conecte os dois pontos. A curvatura da linha é parecida com as linhas de fluxo de um campo elétrico não uniforme. A falta da força uniforme pode fazer com que os líderes escalonados sigam um caminho que não seja uma linha reta até o solo.
Considerando essas possibilidades, fica óbvio que existem vários fatores que afetam a direção do líder escalonado. Ensinaram-nos que a menor distância entre dois pontos é uma linha reta, mas, no caso dos campos elétricos, as linhas de força (linhas de fluxo) podem não seguir a distância mais curta, uma vez que a distância mais curta nem sempre representa o caminho de menor resistência.
Agora temos uma nuvem eletricamente carregada com líderes escalonados sempre crescendo, que se esticam, em estágios, em direção à Terra. Eles são fracamente iluminados por um brilho púrpuro, e podem surgir outros líderes em áreas onde os líderes originais se dobram ou viram. Uma vez iniciado, o líder continuará até que a corrente flua, não interessando se o líder original vai chegar antes no chão ou não. O líder tem, basicamente, duas possibilidades: continuar crescendo em etapas de plasma crescente ou esperar pacientemente em sua atual condição de plasma até que outro líder atinja um alvo.
O líder que atingir o solo primeiro colhe as recompensas da jornada, formando um caminho condutivo entre a nuvem e o solo. Esse líder não é a descarga do relâmpago; ele apenas mapeia o caminho que aquela descarga seguirá. A descarga é o fluxo da corrente elétrica bem forte e repentino, que se move da nuvem para o solo.
Antes de continuarmos, temos que levar em conta o que está acontecendo com a superfície da Terra e os objetos que nela estão. Na próxima seção, vamos examinar as descargas conectantes positivas e ver o que acontece quando estas descargas conectantes encontram os líderes escalonados.


As descargas conectantes positivas e a explosão do ar


Conforme os outros líderes se aproximam da Terra, os objetos da superfície começam a responder ao forte campo elétrico. Eles alcançam as nuvens "desenvolvendo"descargas conectantes positivas. Essas descargas conectantes também têm uma cor púrpura e parecem ser mais intensas nas extremidades pontiagudas. O corpo humano produz essas descargas conectantes quando está sujeito a um forte campo elétrico como o de uma nuvem de tempestade. De fato, qualquer coisa na superfície da Terra tem potencial para enviar uma descarga conectante. Uma vez produzidas, elas não continuam crescendo em direção às nuvens. Unir esse espaço é trabalho dos líderes escalonados em sua queda. As descargas conectantes esperam pacientemente, esticando-se para cima conforme os líderes escalonados se aproximam.

O que está prestes a acontecer é o real encontro de um líder escalonado com uma descarga conectante. Conforme discutido anteriormente, a descarga conectante que o líder escalonado atinge não é necessariamente a que está mais perto da nuvem. É muito comum que os raios atinjam o solo mesmo que haja uma árvore, um poste de luz ou qualquer outro objeto por perto. O fato de o líder escalonado não fazer um caminho reto permite que isso aconteça.
Após o encontro, o ar ionizado (plasma) completou sua jornada até o solo, deixando um caminho condutor da nuvem ao solo. Com esse caminho completo, a corrente flui entre o solo e a nuvem. Essa descarga de corrente é a forma de a natureza tentar neutralizar a separação de cargas. A luz que vemos quando essa descarga acontece não é a descarga do relâmpago, mas sim seus efeitos locais.

Tipos de raios


Sempre que há uma corrente elétrica, há calor associado a essa corrente. Desde que a quantidade de corrente elétrica em uma descarga de relâmpago seja enorme, também será enorme a quantidade de calor. Na verdade, o raio de um relâmpago é mais quente do que a superfície do Sol. Esse calor é a real causa do brilho branco-azulado que vemos.

Quando o líder e a descarga conectante se encontram, deixando fluir a corrente (a descarga do relâmpago), o ar ao redor dela fica extremamente quente, tão quente que realmente explode, porque o calor faz que o ar se expanda muito rapidamente. A explosão é seguida pelo que conhecemos como trovão.
O trovão é a onda de choque irradiando ao longo do caminho da descarga. Quando o ar esquenta, ele se expande rapidamente, criando uma onda de compressão que se propaga pelo ar ao redor. Essa onda de compressão se manifesta na forma de uma onda sonora, o que não significa que o trovão seja inofensivo. Pelo contrário, se você estiver perto o bastante, conseguirá sentir a onda de choque, uma vez que ela sacode as redondezas. Saiba que, quando acontece uma explosão nuclear, normalmente a maior parte da destruição é causada pela energia da onda de choque, que se move rapidamente. Na verdade, a onda de choque que produz o trovão de uma descarga do relâmpago pode causar danos à população e às estruturas. Esse perigo é maior quando você está perto da descarga do relâmpago, porque a onda de choque é mais intensa ali, depois diminuindo com a distância. A física nos ensina que o som viaja bem mais devagar do que a luz: por isso, vemos a luz antes de ouvirmos o trovão. No ar, o som viaja 1,6 km a cada 4,5 segundos e a luz viaja a 300 mil quilômetros por segundo.


Foto cedida Biblioteca de fotos NOAA, Biblioteca Central NOAA; OAR/ERL/National Severe Storms Laboratory (NSSL)
Múltiplas descargas de relâmpagos de nuvens para o solo e de nuvens para nuvens

Descargas múltiplas


Você está sentado em seu carro e vê o brilho de uma descarga do relâmpago. A primeira coisa que você percebe são muitas outras ramificações que brilham ao mesmo tempo que a descarga principal. Em seguida, você nota que a descarga principal pisca ou se turva algumas vezes mais. Os ramificações que você viu eram, na verdade, os líderes escalonados que estavam conectados ao líder que atingiu o alvo.

Quando ocorre a primeira descarga, a corrente flui na tentativa de neutralizar a separação de cargas, o que exige que a corrente, associada à energia dos líderes escalonados, também flua para o solo. Os elétrons dos outros líderes escalonados, estando livres para se mover, fluem por meio do líder pelo caminho da descarga. Então, quando ocorre uma descarga, os líderes escalonados estão fornecendo corrente e exibindo as mesmas características de calor do real caminho da descarga. Depois da descarga original, é normal que ocorra uma série de descargas secundárias, que apenas seguem o caminho da descarga principal; os outros líderes escalonados não participam dessa descarga.
Na natureza, o que vemos normalmente não é o que acontece, e esse é definitivamente o caso das descargas secundárias. É bem possível que a descarga principal seja seguida por 30 a 40 descargas secundárias. Dependendo do intervalo de tempo entre elas, vai parecer que estamos vendo uma descarga principal de longa duração ou uma descarga principal seguida de outras luzes ao longo do caminho da descarga principal. Essas condições são facilmente compreensíveis se nos dermos conta de que as descargas secundárias podem acontecer enquanto ainda podemos ver o brilho da descarga principal, o que daria a impressão de que o brilho do relâmpago principal durou mais do que realmente durou. As descargas secundárias também podem acontecer depois do brilho da descarga principal terminar, dando a impressão de que ela está piscando.
Agora você conhece a mecânica da descarga de um relâmpago. É incrível pensar que toda a atividade, desde o início da ionização até a ocorrência da descarga, acontece em uma fração de segundo. As câmeras de alta velocidade usadas para tirar fotos de relâmpagos têm captado as descargas conectivas positivas. Se você quiser observar esse fenômeno em um ambiente seguro, construa um gerador Van de Graaff e o faça funcionar em uma sala escura. Quando você se aproximar do gerador, as pontas de seus dedos começarão a brilhar em cores púrpuras como a do líder escalonado ou da descarga conectante.


Foto cedida Biblioteca de fotos NOAA, Biblioteca Central NOAA; OAR/ERL/National Severe Storms Laboratory (NSSL)
Relâmpago da nuvem para o solo



Foto cedida Biblioteca de fotos NOAA, Biblioteca Central NOAA; OAR/ERL/National Severe Storms Laboratory (NSSL)
Relâmpago de nuvem para nuvem

ipos de descargas e relâmpagos

  • Da nuvem para o solo: já apresentado


Foto cedida NASA
Relâmpago do solo para a nuvem

  • Do solo para a nuvem: o mesmo que o tipo anterior, exceto que normalmente um objeto alto e preso à terra inicia a descarga em direção à nuvem.
  • De nuvem para nuvem: também segue os mesmos mecanismos já apresentados, exceto que a descarga viaja de uma nuvem para outra.
Tipos de relâmpago
  • Relâmpago normal: já apresentado.
  • Relâmpago difuso: um relâmpago normal que é refletido nas nuvens.
  • Relâmpago de calor: um relâmpago normal próximo ao horizonte, que é refletido por nuvens altas.
  • Relâmpago bola: um fenômeno no qual o relâmpago forma uma bola, que se move lentamente e pode queimar objetos em seu caminho antes de explodir ou apagar.
  • Red sprite: uma explosão vermelha que acontece acima das nuvens de tempestade, atingindo alguns quilômetros de comprimento (em direção à estratosfera).
  • Blue jet: uma explosão azul, em forma de cone, que acontece acima do centro de uma nuvem de tempestade e se movimenta para cima (em direção à estratosfera) em alta velocidade

Pára-raios


Os pára-raios foram originalmente desenvolvidos por Benjamin Franklin. Um pára-raios é muito simples: é uma vara de metal pontuda, colocada no teto de uma construção (geralmente com 2 cm de diâmetro) e é conectada a um enorme fio de cobre ou de alumínio de mesma espessura. Esse fio, por sua vez, é conectado a uma rede condutiva enterrada no solo.

O objetivo dos pára-raios normalmente é mal compreendido. Muitas pessoas acreditam que eles "atraem" os relâmpagos, ao passo que é melhor dizer que eles fornecem um caminho de menor resistência até o solo, que pode ser usado para conduzir as enormes correntes elétricas quando ocorrem as descargas dos relâmpagos. Se cai um raio, o sistema tenta tirar a corrente elétrica perigosa da estrutura e levá-la seguramente para o solo. O sistema tem a capacidade de lidar com enormes correntes elétricas. Se a descarga do relâmpago atingir um material que não é bom condutor, esse material sofrerá um grande dano por causa do calor. O sistema de pára-raios é um excelente condutor e, por isso, permite que a corrente flua para o solo sem causar nenhum dano por causa do calor.
O relâmpago pode "pular". Esse "pulo" está associado ao potencial elétrico do alvo da descarga do relâmpago em relação ao potencial da Terra. O relâmpago pode ocorrer e então "procurar" um caminho de menor resistência, pulando para objetos ao redor que forneçam melhores caminhos para o solo. Se o relâmpago acontecer perto do pára-raios, o sistema terá um caminho de resistência muito baixa e poderá então receber um "pulo", desviando a corrente da descarga para o solo antes que ele cause ainda mais danos.
Como você pode ver, o objetivo do pára-raios não é atrair os raios, mas sim fornecer uma opção segura para eles. Isso pode parecer meio chato, mas não será se você levar em conta que os pára-raios só se tornam importantes no momento em que um raio cai ou imediatamente após. Independentemente da existência ou não de um pára-raios, a descarga do relâmpago ainda acontecerá.
Se a estrutura que você está tentando proteger estiver ao ar livre, numa área plana, normalmente você usará um sistema de proteção contra relâmpagos que tenha um pára-raios bastante alto, mais alto do que a estrutura a ser protegida. Se a área estiver em um forte campo elétrico, o pára-raios alto pode começar a enviar descargas conectantes positivas, na tentativa de dissipar o campo elétrico. Embora não se possa garantir que o pára-raios sempre vá conduzir o relâmpago que foi descarregado numa área próxima, a probabilidade é grande. Novamente, o objetivo é fornecer um caminho de baixa resistência até o solo numa área que tenha a possibilidade de receber a descarga de um relâmpago. Essa possibilidade vem da força do campo elétrico gerado pelas nuvens de tempestade.

Segurança numa tempestade

Mais de mil pessoas são atingidas por raios todos os anos nos Estados Unidos e, delas, mais de 100 morrem em decorrência do acidente. O relâmpago não é coisa com a qual se brinque.
Se você estiver ao ar livre durante uma tempestade, procure sempre um abrigo adequado. Não corra riscos: o relâmpago pode usar você como caminho para a Terra com a mesma facilidade que usa qualquer outro objeto. Um carro ou uma construção seriam abrigos apropriados. Se você não tiver para onde ir, deve evitar se abrigar embaixo de árvores, pois elas atraem raios. Deixe seus pés o mais unidos possível e se abaixe com a cabeça o mais baixo que puder, sem tocar no chão.
Nunca deite no chão. Depois da descarga de um relâmpago atingir o chão, há um potencial elétrico que irradia a partir do ponto de contato. Se seu corpo estiver nessa área, a corrente pode passar por você - e isso é uma coisa que você nunca vai querer. Isso poderia causar uma parada cardíaca, sem falar nos danos e queimaduras em outros órgãos. Deixando seu corpo o mais baixo possível e minimizando o contato com o chão, você pode diminuir a possibilidade de se machucar por causa de um relâmpago. Se uma descarga de relâmpago ocorrer próximo a você, a corrente teria uma dificuldade muito maior para atravessar seu corpo nessa posição.
Se você estiver dentro de casa, não fale ao telefone. Se você precisar ligar para alguém, use um telefone sem fio ou um telefone celular. Se o raio atingir a linha do telefone, a descagra elétrica viajará para todos os telefones da linha; se você estiver segurando o aparelho, o raio poderá atingi-lo.
Fique longe de tubulações (banheira, chuveiro). Um raio consegue atingir uma casa ou um local próximo a ela e transmitir uma descarga elétrica aos canos de metais utilizados no encanamento. Já não é mais tão perigoso quanto antigamente, porque hoje, geralmente, os encanamentos são feitos de PVC (cloreto de polivinil). Se não souber de que material seu encanamento é feito, espere até a tempestade passar.

Verdadeiro x falso

  • Ben Franklin foi atingido por um raio
    De jeito nenhum! Ao contrário do que às vezes dizem os livros escolares, o Sr. Franklin foi muito sortudo de ter sobrevivido a sua experiência. A faísca que ele viu ocorreu pelo fato do sistema pipa/chave estar em um forte campo elétrico. Se o sistema tivesse sido atingido, o Sr. Franklin certamente teria morrido. Como todos sabemos, sua experiência foi extremamente perigosa e não pode ser repetida.
  • A borracha dos pneus o mantêm seguro dentro do carro porque ela não conduz eletricidade
    Não! Em fortes campos elétricos, os pneus de borracha na realidade se tornam mais condutivos do que isolantes. O motivo pelo qual você está seguro num carro é que o raio viajará pela superfície do veículo e então irá para o solo, pois o veículo age como uma gaiola de Faraday (em inglês). Michael Faraday, físico britânico, descobriu que uma gaiola de metal protegeria os objetos que estivessem dentro dela se fosse atingida por uma descarga de alta voltagem. O metal, sendo um bom condutor, direcionaria a corrente ao redor dos objetos e a descarregaria seguramente no solo. Esse processo de proteção é amplamente usado atualmente para proteger os circuitos integrados eletrostaticamente sensíveis do mundo eletrônico.
  • Os objetos mais altos sempre são os atingidos pelos raios
    É verdade que os objetos mais altos estão mais perto das nuvens, mas, como já foi apresentado, o raio pode atingir o solo perto de um objeto alto. Objetos altos podem ter maior probabilidade de serem atingidos, mas, quando o assunto é relâmpago, não podemos prever nada.
  • Protetores de oscilação de voltagem irão salvar seus produtos eletrônicos (TVVCR, PC) se um raio atingir sua linha de força
    De jeito nenhum! Os protetores de oscilação de voltagem atuam contra oscilações de voltagem na linha da companhia de eletricidade, mas não contra raios. Para realmente se proteger contra danos causados por raios, você precisa de umdescarregador. Ele usa um espaço cheio de gás, que funciona como um circuito aberto para baixas voltagens, mas o gás fica ionizado e conduz em altas voltagens. Se o raio atingir a linha que você estiver protegendo, o buraco cheio de gás conduzirá a corrente de forma segura para o solo.









Viagens Acima da Velocidade da Luz

Dá para imaginar o Super-Homem voando atrás de uma bala, acelerando até ficar mais veloz que ela - e parando o projétil antes que atinja o alvo. Não parece nada de anormal para um super-herói. O voo do Super-Homem obedece à visão de tempo e espaço de Newton: a posição e o movimento de objetos no espaço são mensuráveis em relação a um ponto absoluto, imóvel, de referência.
No início do século 20 os cientistas se aferravam à visão newtoniana do mundo. Aí o matemático e físico Albert Einstein veio com algo que mudou tudo. Em 1905 Einstein publicou sua teoria da relatividade especial, com uma ideia estarrecedora: não existe um ponto privilegiado de referência. Tudo - até o tempo - é relativo. Dois princípios importantes fundamentavam sua teoria. O primeiro dizia que as mesmas leis da física se aplicam igualmente a todos os pontos de referência em movimento constante. O segundo estabelecia que a velocidade da luz (cerca de 300.000 km/s) é constante e independente do movimento do observador ou da fonte de luz. Segundo Einstein, se o Super-Homem voasse à metade da velocidade da luz tentando alcançar um facho de luz o facho continuaria a se afastar dele a exatamente a mesma velocidade.
Esses conceitos parecem simples, mas contêm implicações de dar nó na cabeça. Uma das mais importantes é representada pela famosa equação de Eisntein E=mc², onde E é energia, m é massa e c é a velocidade da luz. De acordo com a equação, massa e energia são a mesma entidade e podem ser transformadas uma na outra. Devido a essa equivalência, a energia que um objeto tem graças ao movimento fará sua massa aumentar. Em outras palavras, quanto mais veloz um objeto, maior sua massa. Isso se torna perceptível somente a velocidades realmente altas. Se o objeto se mover a 10% da velocidade da luz, por exemplo, sua massa será apenas 0,5% maior que a normal. Mas se ele se mover a 90% da velocidade da luz sua massa será duplicada.
Conforme um objeto se aproxima da velocidade da luz sua massa aumenta abruptamente. Se um objeto tentar atingir 300.000 km/s sua massa se tornará infinita, assim como a energia necessária para movê-lo. Por isso nenhum objeto normal pode viajar à velocidade da luz ou acima dela.
Então a resposta à pergunta do título deste texto é que não é possível viajar à velocidade da luz. Mas o que acontece perto da velocidade da luz? Saiba na próxima página.


Quase à velocidade da luz?


E se uma pessoa viajasse quase à velocidade da luz? Nesse caso, ela sentiria alguns efeitos interessantes.

Um resultado interessante é algo que os físicos chamam de dilatação do tempo, que descreve como o tempo passa mais lentamente para objetos que se movem muito velozmente. Se alguém viajasse num foguete a 90% da velocidade da luz, a passagem do tempo para essa pessoa diminuiria pela metade. Enquanto na Terra um relógio marcasse 20 minutos transcorridos, um relógio no foguete indicaria 10 minutos passados.



Haveria também estranhas consequências visuais. Uma delas, chamada aberração, levaria o campo de visão do viajante a encolher, tornando-se uma pequena "janela" em forma de túnel na frente da espaçonave. Isso acontece porque os fótons (partículas de luz extremamente pequenas), mesmo os que estão atrás do viajante, parecem vir da frente. Além disso, o viajante perceberia acentuado efeito Doppler, que faria as ondas de luz das estrelas à frente da nave se agruparem, fazendos os objetos parecerem azuis. As ondas de luz das estrelas atrás se espalhariam, parecendo vermelhas. Quanto mais veloz a nave, mais acentuado o efeito, até que toda a luz visível das estrelas à frente e atrás da nave saia do espectro visível (as cores que as pessoas enxergam). Quando as estrelas perdem os comprimentos de onda visíveis elas parecem escurecer até ficar pretas ou desaparecem contra o fundo.




É claro que para viajar mais rápido que um fóton seria necessário algo mais que a tecnologia atual dos foguetes, usada há décadas. Talvez a solução esteja na capa do Super-Homem...

Galileu Galilei

Ele foi um bon vivant sem a menor propensão para se tornar um mártir. Suas paixões eram aciência, vinhos e mulheres. Para escapar da condenação pela Inquisição, dizem que, enquanto se desmentia sobre a Terra se mover em torno do Sol, teria resmungado “mas que ela se move, se move”. O italiano Galileu Galilei foi um dos brilhantes espíritos da Renascença e está entre os mais importantes cientistas de todos os tempos.


Em sua trajetória entre os séculos 16 e 17 para desvendar e descrever boa parte do sistema solar como o conhecemos, viveu uma vida tempestuosa. Extrovertido, amante dos prazeres mundanos, dotado de um ávido apetite intelectual, impetuoso e presunçoso, ele buscou incansavelmente ser reconhecido por suas descobertas. Galileu fez parte de um grupo de pensadores que iluminaram a escuridão em que a mente humana estava mergulhada na Alta Idade Média.



Ele foi um dos fundadores da era científica. Muitas de suas descobertas alimentariam as revolucionárias teorias que Isaac Newton desenvolveria alguns anos após a morte do cientista italiano. Nas páginas a seguir, conheça um pouco da vida e das descobertas do polêmico Galileu Galilei.





galileu galilei
Reprodução


Este artigo é um resumo do livro “Galileu e o Sistema Solar em 90 minutos”, de Paul Strathern, da coleção “Cientistas em 90 minutos” da Jorge Zahar Editor, publicado em 1999.

Galileu: ciência, vinhos e mulheres




galileu galilei
© istockphoto.com / Steven Wynn
Ilustração que retrata Galileu Galilei
Um dia ele foi até o alto da inclinada Torre de Pisa e jogou objetos feitos do mesmo material e com pesos diferentes. Todos caíram à mesma velocidade. Ao contrário do que dizia Aristóteles, os mais pesados não caíram mais rapidamente. O jovem Galileu Galilei acabara de audaciosamente fazer uma demonstração pública de uma falha nos pensamentos do filósofo que dominava a vida intelectual há séculos.  


Essa ousadia fez parte de toda a vida desse polêmico cientista. Galileu nasceu em Pisa em 15 de fevereiro de 1564, três dias antes da morte de Michelangelo, e morreu próximo à Florença em 8 de janeiro de 1642, um ano antes do nascimento de Isaac Newton. Na infância estudou no mosteiro de Vallombrosa e ficou tão encantado com a vida monástica que decidiu tornar-se noviço. Mas seu pai o queria médico e aos 17 anos foi estudar na Universidade de Pisa. Naquele momento, a Renascença aflorava e a vida na Europa, das artes ao comércio, florescia.




Galileu desprezava os professores e arrogantemente os desmentia, o que provava que apesar de sua argúcia intelectual, lhe faltava argúcia social. Com a falta de desafios acadêmicos, o extrovertido jovem de cabelos ruivos frequentava tavernas e bordéis e as orgias tornaram-se rotineiras para ele. Seus interesses pela universidade só mudariam quando encontrou o matemático Ostilio Ricci, que viraria seu professor particular. Com ele, Galileu conheceu os pensamentos de Euclides e Arquimedes. Apesar disso, não conseguiu obter o diploma nos quatro anos que ficou na universidade.

Sem diploma e dinheiro, precisou que o pai usasse alguns contatos para que desse algumas aulas. Nesse período, ele já demonstrava seu brilhantismo em um ensaio e no aprimoramento de um experimento de Arquimedes. Realizou também uma polêmica conferência pública na qual revelou as dimensões e a localização geográfica do inferno descrito por Dante Alighieri em “A Divina Comédia”. Esse fato nonsense revela a contraditória visão de mundo de Galileu, que ao mesmo tempo aceitava o pensamento medieval de Alighieri e o analisava com a atitude inquisitiva do novo cientista que nascia.



Até perceber que necessitaria de um patrocinador para alcançar o que almejava – um cargo de professor em uma das universidades italianas que lhe garantisse renda e estabilidade – Galileu, com sua atitude combativa e arrogante, colecionou vários desafetos. Em 1589, no entanto, ele conheceu Guiobaldo Del Monte, um marquês também interessado em ciência e que havia publicado um tratado sobre mecânica. Del Monte se tornaria o mecenas aristocrático que Galileu necessitava e graças a ele conseguiu um emprego de professor de matemática na Universidade de Pisa. Ali começaria uma nova etapa em sua vida que abalaria as convicções dominantes sobre o mundo.

Galileu: o sistema solar e a Igreja


Em 1969, quando estava na superfície lunar, o astronauta Neil Armstrong deixou cair da mesma altura um martelo e uma pena. Quando ambos tocaram no chão ao mesmo tempo, ele afirmou: “Viram? Galileu estava certo”.



“Sobre o movimento” foi uma das primeiras obras de Galileu, mas, apesar de ser um dos mais originais pensamentos sobre o movimento em sua época, ele nunca a publicou. Nela, ele estabeleceu três leis do movimento: (1) todos os corpos caem da mesma altura em tempos iguais; (2) na queda, as velocidades finais são proporcionais aos tempos; (3) os espaços percorridos são proporcionais aos quadrados dos tempos. Galileu estava ciente de que a resistência do ar era uma interferência nessa queda, por isso sugeriu que a equivalência direta só ocorreria no vácuo.

Com essa e outras ideias polêmicas que contradiziam o pensamento aristotélico em vigor, ele acabou não tendo seu contrato renovado com a Universidade de Pisa. Galileu foi então lecionar na Universidade de Pádua, que era uma das melhores da Europa naqueles tempos. Foi lá que ele desenvolveu seu Compasso Geométrico e Militar, uma das investidas dele pelo mundo comercial, mas a única em que foi bem-sucedido.


Em 1599, Galileu conheceu Marina Gambá, uma beldade que se despia com facilidade. Como não ficava bem um professor universitário casar-se com uma prostituta, eles se tornaram amantes. Com ela, Galileu teve três filhos. Ele amou e cuidou muito bem de todos, sendo um excelente pai.



Na época do início de seu relacionamento com Marina, Galileu começou a se corresponder com Johannes Kepler, que havia sido assistente do astrônomo dinamarquês Tycho Brahe. Com a morte do astrônomo, Kepler seguiu e aprimorou as descobertas do mestre, que caminhavam na linha dos pensamentos de Copérnico. Pensamento que colocava o Sol no centro e os planetas girando em torno dele, num cenário em que a ideia aristotélica da Terra como o centro do universo e de um céu fixo e permanente era a oficial e dominante.

Nos anos seguintes, a invenção do telescópio daria a Galileu o instrumento necessário para definitivamente mudar a compreensão do sistema solar. Ele se empenhou em aperfeiçoar o instrumento e começou a explorar o céu de forma sistemática. Entre suas descobertas, estão os satélites de Júpiter, as manchas solares, as imperfeições da Lua. Suas observações do espaço provavam as teorias de Copérnico de que o Sol estava no centro de nosso sistema e que os planetas descreviam órbitas em torno dele. Mas não aceitou as evidências de Kepler de que essas órbitas eram elípticas. Continuou a achar que elas eram circulares.


Ao tornar público seu pensamento arranjou um enorme conflito com a Igreja e com os acadêmicos aristotélicos. Já com a fama de um dos maiores cientistas de sua Era, tentou defender sua causa diretamente no Vaticano, junto às autoridades eclesiais. Com a reação negativa da Igreja achou melhor se recolher, apesar de acreditar que a “Bíblia mostra o caminho do céu, mas não como o céu caminha”. Tentou seguir em seus estudos e investigações científicas sem criar controvérsias. No entanto, seu temperamento não era adequado a esse estilo de vida.



Em 1632, publica o “Diálogo sobre os dois principais sistemas de mundo, o ptolomaico e o copernicano”, obra em que quebrava o compromisso assumido anteriormente com a Igreja de não ensinar ou discutir o sistema copernicano, sob qualquer forma ou feição. O papa Urbano 8.° pediu a instalação de um processo da Inquisição contra o cientista. Sob interrogatório e com a condenação certa, ele arrefeceu, negando sua “ciência herética” o que levou a revogação de sua prisão. Em sua última década de vida, morando nos arredores de Florença produziu ainda a obra “Discurso sobre duas novas ciências”, em que sintetizou vários de seus pensamentos sobre mecânica e registrou as conclusões dos experimentos que fez durante sua vida. A obra contrabandeada para Paris chegou aos seus ex-alunos que naquele momento eram professores universitários espalhados pela Europa.



Charles Darwin

Ele descobriu o que é a evolução e como ela funciona. Com isso, Charles Darwin fez uma revolução que ainda hoje produz reações daqueles que não aceitam ser a humanidade apenas mais um degrau no processo evolutivode sobrevivência e seleção natural. A ideia de que o homem descende do macaco foi a mais ousada já produzida pela ciência.


Darwin guardou em segredo seus pensamentos sobre a evolução durante décadas. O mundo em que vivia no século 19 não estava preparado para ouvir uma versão científica que destruía os principais alicerces da teoria da criação. Finalmente em 1859 ele publicou “Sobre a origem das espécies por meio da seleção natural”. A primeira tiragem esgotou no mesmo dia do lançamento. A intensidade do sucesso do livro foi a mesma da reação da Igreja. Ao afirmar que os seres humanos não passavam de macacos avançados, ele simplesmente aniquilava qualquer espécie de intervenção divina na criação da humanidade.



Pensamentos sobre a evolução

“Acreditar, como acredito, que o homem, num futuro distante, será uma criatura muito mais perfeita do que agora é um pensamento intolerável que significa que ele e todos os outros seres sensíveis estão condenados ao aniquilamento total, depois desse lento progresso de longa duração. Para aqueles que admitem plenamente a imortalidade da alma humana, a destruição de nosso mundo não parecerá tão terrível.”

Charles Darwin

“A evolução é essencialmente um processo caprichoso, que generosamente permite a sobrevivência de criacionistas, astrólogos e até meteorologistas.”

John Mandeville

“Pode-se duvidar da existência de outros animais que tenham tido papel tão importante na história do mundo quanto essas criaturas humildes e organizadas [falando sobre os vermes].”

Charles Darwin



Após a divulgação de seus pensamentos, o homem mudou definitivamente a forma de ver a si mesmo e o mundo ao seu redor. Num caminho sem volta, as ideias da seleção natural questionaram a certeza histórica de que a humanidade era o centro do universo. “A origem das espécies” mostrou que somos o resultado de um processo de evolução que hoje calculamos ter se iniciado há cinco bilhões de anos. A revolução científica que começou com Copérnico no século 16 chegava ao seu final com a subversiva ideia de que as espécies na face da Terra evoluem a partir da sobrevivência do mais apto.



Nas próximas páginas, conheça um pouco mais sobre a vida e o trabalho científico de Charles Darwin.



Darwin
Reprodução


Este artigo é um resumo do livro “Darwin e a Evolução em 90 minutos”, de Paul Strathern, da coleção “Cientistas em 90 minutos” da Jorge Zahar Editor, publicado em 2001.

Charles Darwin: da infância à viagem no HSM Beagle


Darwin
Enciclopédia Delta Universal
Charles Robert Darwin
Charles Robert Darwin nasceu em 12 de fevereiro de 1809, em Shrewsbury, na Inglaterra. Ele descendia de uma família com várias personalidades. Uma delas foi seu avô paterno, Erasmus Darwin, que teria esboçado de forma poética a primeira explanação sobre evolução. Outra foi o físico Francis Galton, que criou a eugenia, estudo científico que propunha o melhoramento genético da raça humana. Já seu pai foi um médico, com pretensões medíocres, que atendia a pacientes ricos e logo fez fortuna na repressora era vitoriana. A educação de Darwin ficou a cargo principalmente das irmãs mais velhas, até porque sua mãe morreu quando ele tinha somente oito anos de idade.


Na escola local, onde se ensinava apenas os clássicos, ele mostrou seu interesse por esportes e por colecionar espécimes da natureza, que usava em seus próprios experimentos químicos. Aos 16 anos de idade, foi mandado para a Universidade de Edimburgo para estudar medicina. Darwin era um jovem sensível, que cultivava uma hipocondria desde a infância, e ficava aterrorizado quando tinha que assistir às operações realizadas sem anestésicos. Na época, filiou-se à Sociedade Pliniana de História Natural e fez amizade com o zoólogo Robert Grant, manifestando mais uma vez seu interesse pela biologia.



Foi Grant quem apresentou para Darwin as ideias do biólogo francês Jean Lamarck, que formulara a teoria de que as espécies de animais e plantas não eram estáticas. Elas evoluíam. Mas para Lamarck o fator que as levavam à evolução era o meio ambiente. Segundo ele, as características adquiridas em uma geração são transmitidas para as próximas. Com os debates que aconteciam em torno do assunto, Darwin começou a especular sobre como a vida teria começado na face da Terra e sobre como ela evoluíra desde então. O fascínio de Darwin não era compartilhado por seu pai que queria vê-lo médico. Mas como ele não avançava em seus estudos de medicina em Edimburgo, foi enviado para estudar teologia em Cambridge. Lá logo encontrou na casa do professor de botânica, o reverendo John Henslow, reuniões de naturalistas e expedições aos pântanos vizinhos para coletarem espécies aquáticas.



Nessa época, surgiu a oportunidade que mudaria a vida de Darwin e possibilitaria a ele criar a teoria científica que revolucionaria nosso modo de ver o mundo. O reverendo Henslow foi convidado para o cargo de naturalista a bordo da expedição que o navio HSM Beagle faria para a América do Sul, numa missão de pesquisa para o Almirantado britânico. Como Henslow não queria sair de Cambridge ofereceu o trabalho a Darwin, que aceitou prontamente, apesar da oposição do pai.



O Beagle partiu de Plymouth em 27 de dezembro de 1830 e em três semanas chegou a Cabo Verde. Após se recuperar dos primeiros dias de enjoo e mal estar, Darwin desembarcou no litoral para fazer suas explorações. No meio da vegetação tropical de Cabo Verde ele coletou suas primeiras espécies. Aproveitou também para notar que a geografia da ilha vulcânica mostrava que a formação geológica tinha sofrido lentas transformações ao longo das eras. Darwin começava a despertar de sua vida medíocre de estudante de teologia para se tornar um dos mais importantes cientistas da história.

Charles Darwin: de Galápagos à seleção natural

A viagem de Darwin a bordo do HSM Beagle tinha a previsão inicial de dois anos. Mas, ela acabou durando cinco. Um dos pontos altos para a futura teoria da seleção natural que Darwin desenvolveria foi a passagem pelo arquipélago de Galápagos, na costa do Equador. Em um mês que permaneceu nas ilhas, ele viu uma fauna e flora incomuns. Tartarugas gigantes, iguanas e uma diversidade de tentilhões estavam entre as espécies observadas mais atentamente por Darwin.


Os tentilhões apareciam em diferentes subespécies em distintas ilhas. Em cada uma delas era possível encontrar esses pássaros com cores variadas e diferentes bicos. Os bicos variavam em forma e tamanho em função da maneira como cada subespécie se alimentava. Nas ilhas em que a alimentação deles se baseava em nozes, os pássaros tinham um bico apropriado para isso, em outras em que eles sugavam o néctar das flores o bico era adequado a esse objetivo. Darwin registrou em seu diário: “Pode-se realmente imaginar que, devido a uma escassez original de pássaros nesse arquipélago, uma espécie tinha sido tomada e modificada para diferentes fins”.



Após cinco anos de viagem o Beagle aportou de volta na Inglaterra. Darwin tinha embarcado nele como um inexperiente botânico e, ao retornar, era um cientista em sua plenitude. As coleções de espécies que colheu durante toda a viagem foram alojadas em vários museus em Londres e Cambridge. Ele virou uma celebridade no meio científico, sendo nomeado membro do conselho diretor da Sociedade de Geologia e integrante da Sociedade Real. Mas ele não mudou seu modo de ser. Naquele momento o que mais o afligia é que suas observações eram totalmente discrepantes do criacionismoortodoxo. Segundo a teoria criacionista, os tentilhões observados por Darwin em Galápagos deveriam ser idênticos já que partilhavam o mesmo meio ambiente.



Na viagem, Darwin tinha observado também avestruzes gigantes nos pampas argentinos e uma variação menor logo ao sul, na inóspita Patagônia. Tanto um quanto o outro eram muito parecidos com os avestruzes africanos. Para os criacionistas, os três tipos haviam sido criados como espécies independentes. Mas Darwin já pensava que essas três diferentes variações eram o resultado de uma mesma espécie original que se desenvolveu e se adaptou às diferentes circunstâncias nos seus respectivos isolamentos geográficos.



Assim, Darwin concluiu que a natureza não era imutável. À medida que processava mentalmente suas deduções, outros fatos surgiam para confirmar seus pensamentos. Os tentilhões de Galápagos pertenciam, segundo os catalogadores que trabalharam no material trazido por Darwin, a diferentes espécies. Darwin imaginou que aquilo só poderia ser o resultado de um processo no qual havia originalmente uma única espécie de tentilhão na ilha e que ela foi substituída por toda aquela diversidade que encontrou. Dessa forma, raciocinou que as novas espécies descendiam de um predecessor único mal-adaptado, que se extinguiu. Darwin chamou esse processo de “linhagem modificada”.



Nos três anos seguintes ao seu retorno, ele elaborou as informações e osinsights que teve para desenvolver uma teoria que transformaria nosso conhecimento. Um desses insights veio da leitura de “Ensaio sobre o princípio da população”, de Thomas Robert Malthus. A ideia de luta pela sobrevivência dentro da própria espécie desenvolvida por Malthus (ao se referir às conseqüências catastróficas do crescimento populacional da humanidade), fez Darwin supor que, quando há uma competição pela sobrevivência dentro da própria espécie, os indivíduos mais aptos são os que sobrevivem e transmitem suas características às gerações seguintes, enquanto os menos adaptados desaparecem.



Aos 29 anos de idade Darwin já tinha desenvolvido os alicerces do conceito de seleção natural. Mas ele continuava hipocondríaco e solitário. Foi quando decidiu casar-se. A escolha recaiu sobre sua prima em primeiro grau Emma Wedgwood. Eles casaram-se em janeiro de 1839. Logo após o casamento, ele publicou “Diário”, que relatava as suas aventuras exóticas a bordo do Beagle. O livro fez um imenso sucesso popular, ao mesmo tempo em que era alvo de zombaria nos níveis acadêmicos. Mas as ideias sobre a seleção natural continuavam guardadas com ele, que evitava publicá-las para não suscitar qualquer controvérsia. Em 1842, resolveu resumir sua visão sobre a evolução, mas sem publicá-la.



Foi somente em 1859, mais de duas décadas após voltar de sua inspiradora viagem a bordo do HSM Beagle, que Charles Darwin finalmente decidiu publicar “Sobre a origem das espécies por meio da seleção natural ou A preservação das raças privilegiadas na luta pela sobrevivência”. A primeira edição esgotou no dia do lançamento. Novas edições e traduções para várias línguas foram feitas. A Igreja reagiu furiosamente. E pela primeira vez na história da ciência, uma teoria científica alcançou a fama popular. As pessoas realmente entenderam a teoria da evolução por seleção natural.



Nos anos seguintes à publicação de “Sobre a origem das espécies”, ele continuou a desenvolver sua teoria. Em 1872, Darwin publicou “Origem, a expressão das emoções no homem e  nos animais”, obra que fundou a etologia, a neurobiologia e o estudo da comunicação psicológica. Em 19 de abril de 1882, Charles Darwin morreu. Seu corpo foi enterrado na Abadia de Westminster, em Londres.