quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

10 maiores fraudes científicas

No fim de 2009, hackers invadiram um servidor da Universidade de East Anglia, no Reino Unido, e roubaram cerca de três mil e-mails que ao serem divulgados puseram em dúvida a atitude dos climatologistas defensores da tese de que o aquecimento global é causado pela ação humana. O caso que ficou conhecido como "climagate" reacendeu o debate sobre a ética científica e mostrou que muitos cientistas não são nem um pouco santos quando se trata de defender seus argumentos.

Mas o climagate não só colocou sob suspeita a ideia de que as mudanças climáticas têm causas antropogênicas como trouxe de volta o fantasma de fraudes e embustes que já assombraram as grandes descobertas feitas pela ciência. Ao longo dos séculos essas tentativas de fazer trotes científicos só serviram para alimentar os argumentos daqueles que se opõem às principais teorias, como o evolucionismo. Nas próximas páginas, conheça quais foram dez das maiores fraudes científicas que colocaram em risco a credibilidade de investigações sérias.

Galinha-dinossauro


Maiores fraudes da ciência
Reprodução
Ilustração do que seria o Archaeoraptor segundo a revista National Geographic
Em novembro de 1999 a prestigiosa revista National Geographic trouxe uma matéria surpreendente. Ela tratava da descoberta de um fóssil na China que seria o elo perdido entre os répteis e as aves. Apesar de não ser uma revista científica, como a Nature em que os artigos são revisados por outros cientistas, a National Geographic tem uma alta credibilidade e neste caso sua descoberta foi sustentada pela avaliação de dois respeitados paleontólogos. O problema foi que Xing Xu, do Instituto de Paleontologia Vertebrada e de Paleoantropologia, de Pequim, e Philip Currie, do Museu de Paleontologia de Alberta, no Canadá, dedicaram apenas dois dias para a análise do fóssil antes de confirmarem que tratava-se da mais sensacional descoberta dos últimos tempos. O fóssil que parecia uma mistura de um galináceo e um velociraptor ganhou o nome científico deArchaeoraptor liaoningensis, espécie que teria vivido na China há 125 milhões de anos. Um mês depois, o próprio Xing Xu percebeu que havia se enganado. Ele descobriu que o rabo do fóssil pertencia na verdade a outro dinossauro e que o Archaeoraptor nada mais era do que uma montagem feita por alguém louco para ganhar dinheiro no disputado mercado ilegal de fósseis.

Cópia falsa


Maiores fraudes da ciência
©iStockphoto.com/Antonis Papantoniou
Clonar um ser humano teria deixado de ser ficção científica em 2004 se o veterinário Woo-Suk Hwang, da Universidade Nacional de Seul (Coréia do Sul), não estivesse trapaceando. O cientista coreano anunciou que havia clonado o primeiro embrião humano, abrindo as portas para uma revolução na medicina. Sua proeza, que ao longo de um ano teria resultado em mais 11 clones, e 11 linhagens de células-tronco, foi ratificada pela Science, uma das mais importantes revistas científicas do mundo. Hwang virou uma celebridade, foi condecorado e considerado herói nacional, além de receber milhões de dólares para suas pesquisas. Mas pouco tempo depois, denúncias de erros éticos cometidos por Hwang levaram a uma investigação que concluiu que ele não havia clonado nenhum embrião humano, nem  células-tronco embrionárias. O máximo que Hwang havia conseguido foi criar Snuppy, o primeiro cachorro clonado. A farsa foi construída usando embriões comuns, obtidos a partir da compra de óvulos e da coação da sua equipe, e montagens fotográficas.

Água benta

Em 1988, os adeptos da homeopatiaacreditaram que finalmente a ciência reconhecera a eficácia desse tipo de tratamento. Isso porque o médico imunologista francês Jacques Benveniste publicou um artigo na revistaNature que mostrava que a água tinha memória, isto é, que ela guardava traços  dos elementos que haviam entrado em contato com ela. Como a terapia homeopática baseia-se na ideia da diluição de uma substância ativa na água até que não sobre mais nada dessa substância no remédio, a proposição de Benveniste era a "prova científica" para a eficácia do tratamento. O problema é que ninguém, fora os hoemopatas, levou o artigo de Benveniste muito a sério, pois sua hipótese nunca conseguiu ser reproduzida em laboratório. Para piorar, uma nova pesquisa divulgada em 2005 também pela revista Nature e realizada pelo pesquisador R.J. Dwayne Miller, da Universidade de Toronto (Canadá), e por cientistas do Instituto Max Born, da Alemanha, mostrou que a proposta de que a água retenha alguma "memória" de substâncias com que teve contato está errada. Nessa pesquisa, os cientistas não buscavam criticar o princípio homeopático, mas entender como a água funciona. Mas, mesmo sem querer, eles acabaram jogando um balde de água fria na ideia de Benveniste.
Água

Reprodução
Água com "memória"?

Elementos sob suspeita


Maiores fraudes da ciência
©iStockphoto.com/Starush
Em 1999, o físico Victor Ninov anunciou a criação em laboratório de dois novos elementos químicos: o 116 e o 118, que seria o elemento químico mais pesado e ganharia o nome de "ununoctium". Mas ninguém conseguiu reproduzir o experimento e numa investigação concluiu-se que o físico havia forjado os resultados. Ninov trabalhava na época para o The Ernest Orlando Lawrence Berkeley National Laboratory, pertencente ao governo norte-americano, e já era famoso por junto com sua equipe ter obtido os elementos químicos 111 e 112. As investigações mostraram que Ninov havia inserido falso dados na pesquisa e ele foi demitido em 2001. O cientista afirmou ser inocente e que nunca teve a intenção de cometer qualquer tipo de embuste. Ele alegou ser um bode expiatório e que o processo que resultou em sua demissão fazia parte de um complô internacional contra suas pesquisas.

Supercondutividade fraudulenta


Maiores fraudes da ciência
©iStockphoto.com/Frenchmen77
Como duvidar de um cientista que tem em um mesmo ano oito artigos publicado na Science e na Nature, as duas mais respeitadas e rigorosas revistas de ciência do mundo, e ganha três dos mais importantes prêmios científicos? Isso é possível graças a um ceticismo inerente aos cientistas, que faz com que a ciência tenha a possibilidade de corrigir os enganos construídos pelas mais engenhosas fraudes. O fraudador nesse caso é o físico alemão Jan Hendrik Schön, que trabalhando para a empresa Bell Labs teria desenvolvido um transistor em escala molecular a partir de moléculas orgânicas mortas. O embuste de Schön veio à tona quando dois físicos tentaram usar os resultados dos experimentos do alemão como parâmetro para suas pesquisas e notaram que havia algo errado. A Bell Labs iniciou uma investigação e surpreendentemente descobriu que os dados da pesquisa de Schön haviam sido "deletados". Ele foi demitido, perdeu seu título de Ph.D. e quase todos os seus artigos foram retirados das publicações científicas. O caso Schön levou a um intenso debate sobre a eficácia da revisão dos artigos dos cientistas por seus pares. 

Design inteligente


Design
Reprodução
Os adversários do evolucionismoresolveram construir sua própria teoria científica para tentar explicar racionalmente os atos de criação divina. Essa versão "científica" elaborada peloscriacionistas não chega a ser ciência de verdade, pois não segue os métodos científicos, mas eles se esforçam para fazer parecer que é. A ideia de que há umdesigner inteligente e sobrenatural atuando sobre o universo é defendida em várias teorias, nem sempre coesas e coerentes entre elas, por cientistas como o bioquímico Michael J. Behe, da Lehigh University, e o biologista molecular Jonathan Wells, do Instituto Discovery para Ciência e Cultura. Um dos argumentos "científicos" usados pelo design inteligente é o da complexidade irredutível. Segundo Behe, existem estruturas biológicas que não poderiam ter evoluído de um estado mais simples. Elas seriam irredutivelmente complexas e portanto seria impossível que pudessem ter "evoluído" a partir de estruturas menos complexas, pois essas não teriam condições de existir. Para os cientistas, por não ser um método empírico, o design inteligente não é ciência e sim filosofia.

A tribo dos Krippendorf


Tribo Tasaday
Reprodução / www.tasaday.com
Tasaday tentando descobrir o fogo no século 20
James Krippendorf é um fictício professor de antropologia vivido por Richard Dreyfuss no filme  "A Tribo dos Krippendorf" (1998). Na película, ele fantasia sua família como habitantes primitivos de uma tribo da Nova Guiné, para justificar a verba que recebeu do governo para suas pesquisas. Isso foi mais ou menos o que o governo filipino fez nos anos 70 e que acabou levando na conversa (mais uma vez) a National Geographic e a BBC, entre outras. Segundo foi noticiado na época, uma comunidade "perdida", chamada de tribo Tasaday, havia sido encontrada nas Filipinas. Seus habitantes viviam como na Idade da Pedra, com hábitos e comportamentos pré-históricos, na ilha de Mindanao. Atropólogos fizeram expedições para conhecer o misterioso povo Tasaday, que estaria isolado há pelo menos dois mil anos e não conhecia a agricultura. Detalhes de sua cultura, como a alimentação, seus rituais e sua linguagem, foram revelados ao mundo. A tribo Tasaday ficou famosa, com visitantes e pesquisadores ilustres querendo conhecê-la e reportagens e documentários contando sua fantástica história para o mundo. O problema é que a tribo foi uma invenção do governo filipino, então sob a tirania de Ferdinand Marcos. Somente após a queda de Marcos, em 1986, foi possível descobrir que a tribo era uma farsa. Sem as restrições governamentais, os antropólogos puderam verificar que os pré-históricos Tasaday não moravam em cavernas e usavam jeans e camisetas enquanto não estavam fingindo ser homens da Idade da Pedra. 

Bebês-coelhos


Coelho
© Thomas Stange / iStock
No século 18, os médicos reais eram muito respeitados e considerados homens da ciência. Por isso, quando um dos médicos do Rei George, da Inglaterra, narrou o caso da mulher que deu a luz a 16 coelhinhos as pessoas não só acreditaram como ficaram estupefatas com o acontecimento. A mulher em questão era Mary Toft que ficou grávida em 1726 e logo sofreu um aborto. Só que Mary tinha fascinação por coelhos e alegou que tinha dado a luz a 16 desses bichinhos. Vários cirurgiões foram chamados para analisar o caso, inclusive vários médicos da realeza britânica. À medida que cada um confirmava a história dela, o ceticismo do rei cedia e Mary acabou indo para Londres para ter seu caso mais profundamente analisado pelos cientistas. Mas a mamãe coelha não resistiu muito tempo e logo confessou a farsa. Ela acabou presa por fraude e a comunidade médica britânica perdeu boa parte de sua credibilidade.

O gigante de Cardiff


Gigante de Cardiff
Reprodução
Será que era o Golias?
O gigante de Cardiff é a típica fraude que logo é desmascarada pela ciência mas que, mesmo assim, permanece como uma "verdade" para boa parte da população. Em outubro de 1869, um fazendeiro da região de Cardiff, no Estado de Nova York (EUA), alegou ter descoberto em suas terras o "fóssil" de um homem gigante de cerca de três metros de altura petrificado. Muitos religiosos acreditavam ser esta a prova de que nos tempos pré-diluvianos esses gigantes existiram de fato, como na narrativa bíblica de Davi e Golias. Os cientistas logo constataram que tratava-se de uma peça esculpida em gesso e enterrada no local alguns anos antes. Mas isso não impediu que as pessoas de várias partes viajassem até Nova York e pagassem ingresso para ver o gigante de Cardiff, uma "prova verdadeira" dos relatos bíblicos.  

O homem de Piltdown


Maiores fraudes da ciência
©iStockphoto.com/Illustration by Dennis Cox
Ele definitivamente não era o elo perdido
Este foi o maior e mais duradouro embuste da história da ciência moderna. No começo do século 20, o geólogo britânico Charles Dawnson teria encontrado o elo perdido, a prova definitiva da Teoria da Evolução, de Charles Darwin. Mas a paleontologia e a antropologia são os campos científicos onde as fraudes mais prosperaram e este é o maior exemplo. Em 1912, Dawson apresentou à comunidade científica um crânio que ele teria encontrado em uma mina de cascalho em Piltdown, na Inglaterra. O fóssil revelava uma espécie desconhecida na evolução humana e preenchia exatamente o elo evolutivo entre os macacos e o homem. Somente quatro décadas após a descoberta, a fraude foi revelada. O avanço tecnológico permitiu identificar que o fóssil do "homem de Piltdown" era o resultado da junção de um crânio humano com a mandíbula de um orangotango. Não se sabe se o crânio fraudulento foi preparado pelo próprio Dawson, que morreu em 1916, ou se ele apenas o encontrou e também foi enganado pela armação. 

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