terça-feira, 22 de março de 2011

Enchentes e escassez

ENCHENTES & ESCASSEZ

Enchentes


Enchente não é, necessariamente, sinônimo de catástrofe. É apenas um fenômeno natural dos regimes dos rios. Não existe rio sem enchente. Por outro lado, todo e qualquer rio tem sua área natural de inundação. As inundações passam a ser um problema para o homem quando ele deixa de respeitar esses limites naturais dos rios. Por exemplo, quando remove as várzeas e quando se instala junto às margens. Ou então quando altera o ambiente de modo a modificar a magnitude e o regime das enchentes, quando desmata, remove a vegetação e impermeabiliza o solo.

"As alterações que o homem provoca na bacia hidrográfica, 
alterando suas características físicas, também aumentam o prejuízo dessas enchentes."


Como o homem altera as características da bacia? 
De diversas formas. A primeira, ou a mais importante, é quando ele suprime a cobertura vegetal e introduz obras com características de impermeabilização do solo, como construção de casas, telhados, pavimentação de ruas, quintais etc. 


Lixo acumulado na entrada da galeria fluvial, uma das causas das enchentes em SP
Foto: Jornal Folha de São Paulo


Perdemos a capacidade de retenção da água através da vegetação e perdemos também a capacidade de infiltração dessa água no solo. Por conseguinte, os volumes de água que chegarão nos rios serão sempre maiores. E, portanto, os prejuízos das inundações também serão maiores. 
A pergunta que fica é: como podemos enfrentar o problema dos prejuízos decorrentes das inundações? 


Enchente em São Paulo em abril de 2004
Foto: Jornal Folha de São Paulo


Existem basicamente três formas: a primeira é não ocupar as áreas de inundação; a segunda é não alterar - ou alterar o menos possível - as características físicas da bacia hidrográfica. E, por último, através da implantação de obras de contenção de cheias, como a construção de barragens, reservatórios, construção de diques para proteção de áreas de riscos altos de inundação, enfim, outras obras de engenharia, do tipo desassoreamento de rios e ampliação de seus leitos. 

Todas essas obras têm uma característica comum: são extremamente caras e onerosas para a sociedade. Conquanto tenha um certo grau de eficiência, nós podemos dizer que elas não são absolutamente eficazes porque, mesmo contando com essas obras, sempre haverá um evento de chuva, um evento de cheia que provocará uma inundação maior do que aquelas para as quais essas obras foram projetadas". Constante Bombonatto, Engenheiro da SABESP, especialista em ciclo hidrológico. 
Fonte: Sabesp  

Lixo uma das causas das enchentes em SP
Foto: Jornal Folha de São Paulo

Escassez

A água tem se tornado um elemento de disputa entre nações. Um relatório do Banco Mundial, datado de 1995, alerta para o fato de que "as guerras do próximo século serão por causa de água, não por causa do petróleo ou política". 
Em 30 anos, o número de pessoas saltará para 3 bilhões em 52 países. Nesse período, a quantidade de água disponível por pessoa em países do Oriente Médio e do norte da África estará reduzida em 80 por cento. A projeção que se faz é que, nesse período, 8 bilhões de pessoas habitarão a terra, em sua maioria concentradas nas grandes cidades. Daí, será necessário produzir mais comida e mais energia, aumentando o consumo doméstico e industrial de água. Essas perspectivas fazem crescer o risco de guerras, porque a questão das águas torna-se internacional. 
Em 1967, um dos motivos da guerra entre Israel e seus vizinhos foi justamente a ameça, por parte dos árabes, de desviar o fluxo do rio Jordão, cuja nascente fica nas montanhas no sul do Líbano. O rio Jordão e seus afluentes fornecem 60 por cento da água necessária à Jordânia. A Síria também depende desse rio. 
A populosa China também sofre com o problema. O grande crescimento populacional e a demanda agroindustrial estão esgotando o suprimento de água. Das 500 cidades que existem no país, 300 sofrem com a escassez de água. Mais de 80 milhões de chineses andam mais de um quilômetro e meio por dia para conseguir água, e assim acontece com inúmeras nações.
Um levantamento da ONU aponta duas sugestões básicas para diminuir a escassez de água: aumentar a sua disponibilidade e utilizá-la mais eficazmente. Para aumentar a disponibilidade, uma das alternativas seria o aproveitamento das geleiras; a outra seria a dessalinização da água do mar. 
Esses processos são muito caros e tornam-se inviáveis para a maioria dos países que sofrem com a escassez. É possível, ainda, intensificar o uso dos estoques subterrâneos profundos, o que implica utilizar tecnologias de alto custo e o rebaixamento do lençol freático.
Fonte: Sabesp  

Seca em barragem no Nordeste-Areia de Baraúna (PB)
Foto: Jornal Folha de São Paulo



Disponibilidade Hídrica



A disponibilidade hídrica na RMSP é 200 (M3 X habitante X ano)
5 vezes menor que no deserto do Saara, aprox. 1.000 (M3 X habitante X ano) 


A disponibilidade da água se refere tanto à oferta hídrica em um lugar determinado e em uma época do ano, como a possibilidade que têm as populações de contar com água emquantidade e qualidade adequadas. Neste sentido, a disponibilidade tem relação direta com as reservas de água que existem em determinadas regiões. 

Mas há condicionantes adicionais que fazem com que as situações variem notavelmente de um lugar para outro, tais como:
. a distribuição geográfica,
. a concentração populacional,
. as condições climáticas
. os serviços,
. as formas de uso, etc.
A água representa 70% da superfície da Terra, mas a maior parte se encontra nos oceanos. Da água que temos no planeta, 97,5% é salgada, só 2,5% é água doce; mas parte dela se encontra inacessível, em forma de calotas de gelo e glaciares situados em zonas polares distantes das populações. Em suma, somente podemos contar com 1% da água do planeta, ainda que não totalmente porque em algumas ocasiões se encontra em forma de vapor d´ água, no subsolo, com difícil acesso ou faz parte dos organismos vivos.

Em que pese tantas limitações, a água que temos poderia ser suficiente com uma boa gestão e se estivesse distribuída de maneira equilibrada. Mas sabemos que há zonas onde a água é tão abundante que chega a produzir catástrofes, enquanto nos lugares desérticos a escassez é dramática.

Outro problema adicional é que a demanda de água cresceu de maneira vertiginosa nos últimos tempos e há grupos que usam água de maneira excessiva em alguns países. Alémdisso, os processos de contaminação têm ocasionado a perda de muitas fontes de água.

O continente americano possui mais de 30% da água doce existente no mundo. A América Latina é uma das regiões com maiores recursos hídricos, já que a média das precipitações se calcula em 1.500 mm, o que é 50% mais do que a média no mundo; o caudal resultante destas chuvas é calculado em 370.000 metros cúbicos por ano, o que significa que 31% das reservas regionais de água doce chegam cada ano aos oceanos .

A América, comparativamente com o resto do mundo, tem um potencial hídrico importante.
Mas há muitas diferenças entre uma e outra região das Américas. A disponibilidade maior se encontra no trópico úmido, mas há extensas zonas desérticas e com graves problemas.

A água é um recurso finito mas, como já foi assinalado, tem a virtude de reciclar-se de maneira permanente através do ciclo hidrológico. Este singular fato nos levava a supor quese tratava de um bem público de livre disponibilidade, com o qual não haveria problemas.
Os fatos mostram outra coisa: há escassez.




Escassez de Água


Quando se considera que a água escasseia? Se afirma que um país tem escassez de água se dispõe de menos de 1.000 metros cúbicos por pessoa ao ano. Cifras próximas nos indicariam que há uma tensão hídrica; esta existe se se dispõe entre 1.000 e 1.700 metros cúbicos de água por pessoa ao ano. Neste sentido, dois países da Região sofrem tensão hídrica: Haiti e Peru.

Outros países e regiões da América se encontram também em situações complexas com respeito a este valioso recurso. A região do Chaco, por exemplo, compartilhada porArgentina, Bolívia e Paraguai, sofre severos problemas de desertificação. Apesar de contar com dois grandes rios (o Pilcomayo e o Paraguai), a água é um dos recursos maisescassos. A cidade do México enfrenta também sérias dificuldades a respeito da água e se teme que no futuro este seja um problema de grande magnitude. 

O maior aqüífero dos Estados Unidos, o Ogallala, está empobrecendo a uma taxa impressionante de 12.000 milhões de metros cúbicos ao ano .

A crise mundial de água potável foi o tema central de discussão na Conferência da Água realizada em Bonn (Alemanha) no ano 2001, a qual assistiram ministros e diversasautoridades de 120 países. Esta reunião buscava discutir a forma de superar a crise expressada no fato de que 1,2 bilhõa de pessoas em todo o mundo carecem hoje de águapotável.

As projeções para o futuro não são otimistas. Se não forem tomadas medidas adequadas, duas em cada três pessoas no mundo sofrerão escassez de água no ano 2025.

Em 1995, o Haiti tinha apenas 1.544 metros cúbicos por pessoa ao ano. O Peru nesse mesmo ano estava na cifra limite: 1.700 metros cúbicos por ano. As projeções para o ano2025 são alarmantes para estes dois países, pois poderiam chegar a somente 879 e 1.126 metros cúbicos, respectivamente, de acordo com o provável aumento populacional.

O Informe da Avaliação 2000 nas Américas , preparado pela OPS, apresenta o estado global dos serviços de água potável e esgoto sanitário. Neste documento se estima que apopulação total da Região (que inclui 48 países ou territórios) soma aproximadamente 790 milhões de pessoas, das quais 73% são população urbana e 27% correspondem àpopulação rural.

Do total da população na Região, 76,5 milhões não têm acesso à água segura e cerca de 53,9 milhões se abastecem através de sistemas definidos como de fácil acesso, querepresentam na maioria dos casos um risco significativo para a saúde, principalmente para as populações mais vulneráveis.

Nas Américas, o grupo de países composto por Canadá e Estados Unidos se considera que se obteve em certa medida a solução do problema de abastecimento de água potávele esgotamento sanitário. Mas ainda devem enfrentar a renovação da infra-estrutura, ou deterioração dos recursos hídricos e especialmente, o excesso do consumo de água.

Os países da América Latina e Caribe não conseguiram a cobertura total na prestação destes serviços. Também têm sérios problemas de qualidade da água e de proteção dosrecursos hídricos, assim como de perdas de água.

Para superar a crise da água, é preciso promover mudanças substanciais em vários aspectos: conter o aumento da demanda de água devido tanto ao aumento da populaçãocomo ao uso crescente deste recurso por parte da indústria e da agricultura; reduzir os excessos no consumo; melhorar e ampliar os sistemas de abastecimento e reduzir asperdas; gerir as bacias  hidrográficas de maneira sustentável; planejar métodos de melhoria dos processos de distribuição, entre outros.

Uma das tarefas centrais que deve ser empreendida em todos os países da Região é a de evitar o desperdício e diminuir o consumo para obter o uso racional de tão valioso recurso.



POR QUE OS RESERVATÓRIOS DE ÁGUA EM SP ESTÃO VAZIOS
   
 Desde fevereiro, chove menos do que a média histórica no Estado.

 Desde 1997, a demanda de água em São Paulo cresce em torno de 2 metros cúbicos por segundo todos os anos, mas a capacidade dos reservatórios continua a mesma.

 A ocupação irregular das áreas de mananciais, que cresce a cada ano, provoca o assoreamento dos reservatórios e contribui para a diminuição de sua capacidade de armazenagem na época de chuvas.

 Cerca de 300 milhões de litros por dia ou seja 15% da água tratada é perdida em vazamentos na rede e em ligações clandestinas.

 O desperdício é grande. O paulistano gasta, em média, 180 litros de água por dia, 80 a mais do que o considerado suficiente pela ONU.  

Para dar uma forcinha à natureza, a Sabesp vem "semeando chuva". Um avião da companhia despeja nas nuvens sais que aceleram a precipitação. Com a ameaça de racionamento, o paulistano volta a conviver com um martírio recorrente. Se chove muito, sofre com as enchentes e os congestionamentos. Se chove pouco, como no último inverno, é assombrado pelo fantasma da falta d'água.
Fonte: Revista Veja

Imagem de satélite mostra a aproximação do ciclone raro no litoral de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul
"Causa: Interferências do homem no meio ambiente?"
Foto: Jornal Folha de São Paulo

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