terça-feira, 22 de março de 2011

Água e filosofia



Os primeiros filósofos gregos freqüentemente chamados de “filósofos da natureza”, diziam que “Filosofia é o fruto da capacidade humana de se admirar com as coisas”, porque se interessavam pela natureza e pelos processos naturais. Queriam saber como a água podia se transformar em peixes vivos, ou como a terra sem vida, podia se transformar em árvores frondosas ou em flores multicoloridas.

Desde Homero (700 a.C.), na tentativa de descobrir leis que fossem eternas, filósofos deram os primeiros passos na direção de uma forma científica de pensar; eram capazes de elaborar conceitos e idéias abstratas, partindo apenas da observação de fenômenos naturais, como tempestades, inundações, etc; sem ter que para isso recorrer aos mitos.

Thales de Mileto (625 - 548 a.C.). supostamente com os conhecimentos adquiridos junto aos egípcios, descobriu que a Terra era redonda e que a água fosse a origem de todas as coisas; observando como os campos inundados ficavam fecundos, depois que as águas do Nilo retornavam ao seu delta. E a esta dedução pareceu-lhe absolutamente lógica. Tudo o que existe, seja humano, animal ou vegetal. o é por ser ou conter o úmido. Quando a umidade desaparece o ser deixa de existir. Logo, o elemento que se encontra constantemente presente na vida (bios) é a água.

Convenceu-se em conclusão que a terra era um grande disco flutuando sobre as águas, sobre a qual existia uma bolha de ar hemisférica, nossa atmosfera submergindo na massa líquida. A superfície convexa da bolha seria o nosso céu no qual os astros, segundo a sua poética expressão, " navegariam pela água acima". Ou como Aristóteles sintetizou a questão registrando : "Tales dizia que a Terra mantém-se em repouso porque flutua como se fosse um pedaço de madeira ou algo similar, pois nenhuma dessas coisas mantém-se no ar por sua própria natureza mas sim na água ".

Por volta de 460 a.C., supõe-se que a ciência médica grega tenha sido fundada, por Hipócrates - pai da medicina - que apesar de não conhecer o mundo dos seres microscópicos “recomendava ferver e filtrar a água de beber”; sua teoria dizia que o caminho para a saúde do homem está na moderação e num modo de vida saudável - “mente sã em corpo são”.

Precisamente nesta época, Sócrates (470 - 399 a.C.) andava pelas ruas e praças conversando com os atenienses, espaço onde foi lançada a pedra fundamental de toda a civilização européia e formulados palavras e conceitos como: “polÍtica, democracia, economia, história, biologia, fÍsica, matemática, lógica, teologia, filosofia, ética, psicologia, teoria, método, idéia e sistema”. Foi Sócrates que relacionou a deficiência de iodo na água com o (bócio) aumento da tireóide (hiper-tireoidismo).

Platão (426-348 a.C.) manteve contato e foi discípulo de Sócrates; muito mais que um educador, elaborou sistema filosófico e um método de investigação na Academia; que não era aberta para todos; mas, para aquele que pelas qualificações da alma, detinha as condições de obtenção do conhecimento. Assim como Sócrates, Platão acreditava na reencarnação, na imortalidade da alma e afirmava que





"O ouro tem muito valor e pouca utilidade, comparado à água,
 que é a coisa mais útil do mundo e não lhes dão valor"
Foto de Cristais D'água
Autor: Massaru Emoto

Os mitos e a religião são fenômenos universais: surgiram em todos os lugares, em todos os povos. A Filosofia, pelo contrário, é algo mais restrito. Em poucos lugares do mundo, como a Grécia e a Índia, apareceu gradualmente um pensamento filosófico que procurou dar uma explicação para o mundo sem utilizar mitos. Mas isso não aconteceu de repente nem houve um abandono total das concepções mitológicas e religiosas. Muitas vezes elas foram aproveitadas pelos filósofos. Por isso, para entender o surgimento da Filosofia, é preciso partir dos próprios mitos.

A mitologia grega foi de grande importância e influenciou toda a cultura ocidental. Os textos mais antigos que conservam informações sobre a mitologia grega são as obras atribuídas a Homero(Ilíada e Odisséia), elaboradas aproximadamente nos séculos XI ou VIII antes da era cristã, e as obras de Hesíodo, do final do século VIII antes de Cristo. Estas obras são poemas orais que passaram de gerações a gerações transcritos posteriormente.

A antiga visão de mundo dos gregos era de que a Terra (a deusa Gaia ou Géia) era uma superfície circular, plana(exceto em suas irregularidades, como as montanhas), semelhante a um prato ou disco. O céu (o deus Urano) seria a metade de uma esfera oca, colocada sobre a Terra. Entre a Terra e o céu existiriam duas regiões: a primeira, mais baixa, que vai da superfície do solo até as nuvens, seria a região do ar e das brumas. A segunda seria o ar superior e brilhante, azul, que é visto durante o dia, e que era chamado de éter. Embaixo da Terra, existiria uma região sem luz, o Tartaros. Em volta do Tartaros, existiriam três camadas da noite. A noite é considerada como uma deusa assustadora, a quem todos os deuses respeitam.

A Terra conteria todas as regiões secas conhecidas na época(Europa, Ásia e Áfria). Todas elas seriam cercadas por uma a espécie de rio circular, o oceano, que iria até a borda onde o céu e a Terra se encontram. O oceano é descrito como a fonte e origem de todos os rios e mares, Homero chega a descrevê-lo como a origem de todas as coisas e dos próprios deuses.

Consoante a ordem cronológica e a marcha evolutiva das idéias
pode dividir-se a história da filosofia grega em três períodos

I. Período pré-socrático (séc. VII-V a.C.) - Problemas cosmológicos. Período Naturalista: pré-socrático, em que o interesse filosófico é voltado para o mundo da natureza;
II. Período socrático (séc. IV a.C.) - Problemas metafísicos. Período Sistemático ou Antropológico: o período mais importante da história do pensamento grego (Sócrates, Platão, Aristóteles), em que o interesse pela natureza é integrado com o interesse pelo espírito e são construídos os maiores sistemas filosóficos, culminando com Aristóteles;
III. Período pós-socrático (séc. IV a.C. - VI p.C.) - Problemas morais. Período Ético: em que o interesse filosófico é voltado para os problemas morais, decaindo entretanto a metafísica;
IV. Período Religioso: assim chamado pela importância dada à religião, para resolver o problema da vida, que a razão não resolve integralmente. O primeiro período é de formação, o segundo de apogeu, o terceiro de decadência.

Por John Emilio G. Tatton

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