sexta-feira, 22 de outubro de 2010

A verdade por trás de quem descobriu a América

Introdução

A convicção de que Cristóvão Colombo descobriu a América é uma falácia. Ele seguiu caminhos já percorridos por muitos. Séculos antes de seu nascimento, pioneiros já haviam atravessado os oceanos Pacífico e Atlântico. O Novo Mundo já era conhecido por exploradores há 1.500 anos.
Nas salas de aula do mundo inteiro, as crianças aprendem que o navegador genovês Cristóvão Colombo descobriu a América em 1492. Embora a importância dessa viagem para a história da era moderna seja incontestável, diversos aspectos dela foram mitificados. 

Pistas
As pistas sobre os primeiros descobridores da América sugerem rotas de exploração que remontam a mil anos antes de Colomb
Ele não partiu para provar que a Terra era redonda; em vez disso, esperava encontrar uma lucrativa rota comercial para a Ásia. Nem sequer desembarcou nos EUA como o conhecemos hoje; em vez disso, seu navio alcançou terra na ilha de San Salvador, no arquipélago das Bahamas.

De qualquer forma, a noção de “descobrir” o continente americano é por si mesma dúbia. As evidências arqueológicas nos dizem que a América do Norte é habitada há quase vinte mil anos. A viagem de Colombo representa pouco mais que o primeiro passo para a colonização do continente pelos europeus.

As primeiras civilizações a terem navios capazes de alcançar a América foram a egípcia e a fenícia. Embora haja alegações de que chegaram ao continente, os indícios e provas são escassos. Uma argumentação mais convincente é feita em favor dos romanos, embora nada tenha sido escrito sobre essa fantástica jornada.
Romanos (200 d.C.)

Os romanos colonizaram a maior parte do mundo conhecido. Sua influência teria chegado ao outro lado do Atlântico?

Pró
Possível artefato romano encontrado no México.

Contra
Falta de registros na vasta crônica latina.

Tamanho da embarcação
53 metros (vela mestra, sem leme)
Tripulação
60-200
O Império Romano estendia-se da Muralha de Adriano, na fronteira entre a Inglaterra e a Escócia, aos desertos da Síria, abrangendo quase todo o mundo conhecido. Suas galeras eram capazes, sem qualquer dúvida, de realizar a travessia do Atlântico; algumas eram tão grandes quanto os couraçados do século 18. Rebaixadas na proa e arredondadas na popa, como as traineiras, elas eram projetadas para as águas mais calmas do Mare Nostrum (“Nosso Mar”), o Mediterrâneo.
Descoberta misteriosa

Não há povoados romanos ou restos arqueológicos, mas existe uma evidência concreta, sob a forma de uma pequena cabeça de terracota de um homem barbudo, encontrada no Vale de Toluca, 65 km a oeste da Cidade do México. Com apenas 5 cm, a cabeça difere de qualquer outro artefato pré-colombiano. Tem sido uma fonte de controvérsia desde que foi desenterrada, em 1933.
Cientistas do Instituto de Física Nuclear Max Planck empregaram recentemente um método avançado para determinar a idade do artefato. Elétrons de alta energia acumulados no artefato foram forçados a emitir sua energia como luz. A quantidade liberada, proporcional ao tempo transcorrido desde que a argila foi queimada, datou-o em 200 d.C. Muitos consideram que o objeto corresponde ao estilo das peças produzidas em Roma nessa época.
Mistério da cabeça de Toluca

Uma pequena cabeça em terracota encontrada em Toluca, no México, sugere que galeras romanas alcançaram a América, ou ao menos que restos de embarcações romanas naufragadaschegaram até suas praias. A datação do solo sugere que a cabeça de Toluca já estava enterrada muito antes dos espanhóis chegarem à América Central.

O mistério da cabeça de Toluca é como ela pode ter viajado de Roma para o México. Os registros arqueológicos originais sugerem que a cabeça foi enterrada por volta de 1510, pouco antes de colonos europeus poderem levá-la para a América. Um objeto tão pequeno poderia ter vindo nos destroços de um navio naufragado, recuperado numa praia, e levado para o interior do México? A maioria dos estudiosos concorda que, para uma civilização que deixou marcas em todos os lugares por onde se aventurou, as evidências arqueológicas de romanos na América são desprezíveis.
Distâncias percorridas
  • Frota chinesa (1421) - 14.600 km
  • Exploração espanhola (1492) - 8.300 km
  • Vikings (1000 d.C.) - 3.700 km
  • Sacerdote budista (458 d.C.) - 14.800 km
  • Galeras romanas (cerca de 200 d.C.) - 10 mil km
* Correntes oceânicas, especialmente no Pacífico, teriam ajudado nas longas viagens.

A conexão viking

Já as indicações de que mercadores vikings alcançaram o continente americano, por sua vez, são praticamente incontestes. Remontam a menções feitas nas sagas nórdicas, as obras literárias da Idade Média que registram os feitos dos heróis escandinavos.

Segundo "A saga dos groenlandeses", a primeira descoberta se deu por acaso. Um mercador chamado Bjarni Herjulfsson teria partido da Noruega para sua casa na Islândia, em 986 d.C. Ao chegar lá, soube que seu pai, Herjulf, partira para a nova colônia da Groenlândia. Num impulso, decidiu segui-lo. Sob nevoeiro e ventos fortes, ele se perdeu no mar e acabou avistando uma terra coberta por florestas e morros baixos.
Vikings (1000 d.C.)

Segundo a lenda nórdica, Leif Ericsson desembarcou nas “Vinlândia”, uma ilha que tem similaridades com a América.

Pró
Povoado nórdico em L’Anse aux Meadows; Tostão do Maine; mapa de Vinlândia.

Contra
Poucos indícios encontrados no território continental americano.

Tamanho da embarcação
15 metros (uma vela)
Tripulação
30-40
Bjarni não chegou a desembarcar, mas a história que contou na volta inspirou outros, inclusive Leif Ericsson, que comprou o barco de Bjarni e partiu com 35 tripulantes no ano 1000. Ao que tudo indica, Leif desembarcou em vários lugares, antes de voltar para casa; se os relatos são verídicos, os desembarques se deram no atual território canadense.

Evidências arqueológicas mostram que essa história se aproxima da verdade. Na década de 1960, arqueólogos noruegueses encontraram um povoado nórdico na costa norte da Terra Nova. Em L’Anse aux Meadows, encontraram um lugar que parecia corresponder às descrições de Bjarni e Leif.

Havia sete construções em três complexos, o suficiente para um povoado de cerca de cem pessoas. O estilo dos prédios é típico das casas islandesas por volta do ano 1000. Os testes de radiocarbono apontam para o mesmo período. Não há resquícios assim no território continental, mas três nozes brancas encontradas no povoado só podem ter vindo de uma região mais ao sul da própria América.

Mil e seiscentos quilômetros para o sul, no Maine, uma única moeda nórdica, encontrada na entrada da baía de Penobscot, é um indício de que os colonos nórdicos mantiveram contato com os indígenas que viviam no continente. O chamado Tostão do Maine foi encontrado em 1957 por arqueólogos amadores, entre instrumentos de pedra e cerâmicas de índios. A moeda foi identificada como norueguesa, cunhada pelo rei Olaf Kyrre, entre 1067 e 1092.
O Tostão de Maine

A data da cunhagem do “Tostão do Maine” mostra que os antigos nórdicos viajaram para a América, mas não prova que seguiram para o sul até o Maine. O orifício para a passagem de um fio sugere que a moeda foi pendurada num colar e que poderia ter sido trocada entre os nativos americanos.
Por mais fragmentários que sejam tais vestígios, eles convenceram muitos estudiosos de que os vikings alcançaram a América. Mas não parecem ter tido impacto a longo prazo. Não resta traço de sua influência entre os povos indígenas.
Mapeando o passado

Em 1958, um negociante pôs à venda ummapa antigo em pergaminho, mostrando a Europa, a África do Norte, a Groenlândia, e a ilha canadense de Terra Nova. Foi imediatamente adquirido por um milhão de dólares pelo filantropo Paul A. Mellon, que o doou para a Universidade de Yale, cujos especialistas declararam que se tratava de um verdadeiro mapa nórdico, e fixaram sua idade entre 1420 e 1440. Alguns historiadores acham que esse mapa prova que os vikings alcançaram a América. Mas o consenso sobre a questão está longe.
Sobre o mapa

O mapa inclui a Islândia e a Groenlândia – mostrada como uma ilha. Seriam alcançadas antes da ilha de Vinlândia, que está claramente indicada, por navios seguindo para oeste. Mas alguns estudiosos acham que, embora o mapa seja genuíno, Vinlândia e essas ilhas foram acréscimos posteriores. 

Uma inscrição relata que Bjarni e Leif Ericsson, navegando para o sul através do gelo, descobriram uma ilha temperada e muito rica, que possuía até vinhas; chamaram-na Vinland – “terra do vinho”.

O cartógrafo a quem se creditava a autoria do mapa, Claudius Clavius, era um dinamarquês, que copiara as informações de um mapa viking anterior. Mas a proveniência do mapa era bastante duvidosa, sem qualquer registro anterior a 1958, quando foi descoberto. Os críticos alegam que os colonos nórdicos da Groenlândia não tinham conhecimento cartográfico, baseando-se em vez disso na tradição oral.

Em 1972, a análise da tinta usada no mapa assinalou a presença de anastase, um pigmento de dióxido de titânio, que só foi sintetizado em 1923. A anastase deixa vestígios de amarelo. Um falsificador teria acrescentado a substância mais tarde, para simular o envelhecimento da tinta de vitríolo de ferro. Portanto, o mapa só podia ser uma hábil falsificação. Outros cientistas, porém, contestaram a descoberta, provando que a quantidade de anastase presente podia ser explicada por uma contaminação acidental.

A datação do pergaminho por radiocarbono, divulgada em 2002, indicou que ele foi feito em 1434, com um erro relativo de 11 anos, exatamente o período em que os estudiosos de Yale acreditam que o mapa foi desenhado. Concluíram que a linguagem usada e o estilo de escrita combinavam com os registros do Concílio de Basiléia, convocado pela Igreja entre 1431 e 1449.

Exploradores orientais

Uma teoria recente e controversa propôs que outra grande civilização marítima pode ter alcançado a América antes de Colombo. Em 1421, o imperador chinês Ju Di ordenou que uma enorme frota partisse de Nanquim para levar de volta às suas terras alguns soberanos e enviados especiais que o haviam visitado.

A frota deveria “continuar por todo o caminho até o fim do mundo, a fim de cobrar tributo dos bárbaros além dos mares... e atrair todos sob o céu para serem civilizados na harmonia confuciana”. O almirante Jeng He recebeu o comando da frota, integrada por navios de um tamanho e poderio que não tornariam a ser vistos por séculos, equipados com numerosos camarotes.
Os arquivos imperiais registram que uma vasta frota de 317 navios partiu da China no início do século 15. Não é consenso que eles tinham ido além da África, mas um historiador insiste em que alcançaram as praias americanas.

Pró
Junco contestado no rio Sacramento. Possíveis traços do chinês em línguas californianas.

Contra
Indícios escassos.

Tamanho da embarcação
Navios de 240 x 60 metros

Tripulação
Mais de mil.
Os navegantes dispunham de bússolasmagnéticas e mapas, e seguiram rotas conhecidas. Nunca foi registrado até onde foi a frota de Jeng He. Quando voltou, dois anos depois, as coisas mudaram. A Chinainiciou uma política de isolamento que durou 600 anos. Ju Di fora substituído por seu filho, que fechou as portas para o mundo e deixou que as grandes naves apodrecessem.

Um barco da frota de Jeng He teria alcançado a costa oeste do Novo Mundo? Um junco medieval chinês no fundo do rio Sacramento, quase 160 km interior adentro, seria uma prova irrefutável, se os peritos pudessem concordar que ele existiu.

As amostras de madeira encontradas no local foram datadas: 1410 d.C. Fragmentos de madeira também foram enviados para a China, e ali analisados pela Academia Chinesa de Silvicultura. As amostras foram identificadas como da conífera Keteleria, encontrada no sudeste da China, mas não na América do Norte.

Mas questiona-se a validade desses dados. Muitos duvidam que houvesse mesmo um junco no fundo do rio, já que nenhum traço de embarcação foi trazido à superfície. Os fragmentos de madeira são mínimos. Os partidários do junco postulam que o barco encalhou no rio Sacramento, forçando os chineses a se fixar na América. Resquícios de uma aldeia de muro de pedra, a cerca de 110 km do local, apresentam algumas características de construção chinesa.

Outras pistas instigantes foram encontradas. Em 1874, o lingüista Stephen Powers alegou ter encontrado vestígios da língua chinesa entre tribos da Califórnia. Ele argumentou que os chineses se miscigenaram aos nativos e foram vitimados por doenças que os europeus trouxeram no século 15. As autoridades desprezaram suas descobertas.

Missionário intrépido

Os registros chineses mostram que a frota de 1421 já tinha conhecimento da grande massa de terra no outro lado do oceano Pacífico. A primeira menção ao descobrimento da América pode ser encontrada no Volume 231 da "Grande Enciclopédia Chinesa", de Ma Tuan-Lin, historiador do século 13.
Os arquivos contam que no século V d.C. um monge chamado Hoei-Shin deixou a China. Voltou quarenta anos depois com histórias sobre uma terra chamada “Fusang”. Seria a América?

Pró
Certas características deFusang são exclusivas da América Central. A distância da viagem registrada nos arquivos imperiais é correta.

Contra
Não há provas arqueológicas.
Tamanho da embarcação
Junco de 22 metros (vários mastros, com leme).
Tripulação
Desconhecida.
Em 458 d.C., o sacerdote budista Hoei-Shin (“Compaixão Universal”) deixou a China para propagar sua fé pelo mundo. Ele navegou pelo “Vasto Mar Oriental” e voltou 40 anos depois com histórias incríveis de uma terra a que deu o nome de “Fusang”. O relato detalhado fez com que se especulasse queFusang era de fato a América.

O sacerdote falou da paisagem árida que encontrara, dominada pela árvore fusang, que deu nome à terra. Afirmou que “seus frutos parecem pêras, mas são vermelhos; a casca é convertida em pano para roupas e trançada em brocado”. A fusang tem semelhança extraordinária com a Agave americana, comum no México até hoje. Essa suposição é apoiada pela asserção de Hoei-Shin de que a área era desprovida de qualquer fonte de ferro: a América Central é uma das poucas partes do mundo em que tal situação ocorre.

Segundo a "Grande Enciclopédia Chinesa", os habitantes de Fusang eram conhecidos como os ichi. Constava dos registros que osichi “não tinham soldados com cotas de malha, porque não fazem guerra”. Isso se parece com relatos históricos mexicanos sobre a tribo Itza, povo pacífico cujas obras arquitetônicas e artísticas exerceram grande influência sobre a civilização maia.

Modernos estudos náuticos sugerem que a história de Hoei-Shin pode ser genuína. O relato de sua viagem informa que ele percorreu vinte mil liatravés do Pacífico. Essa distância equivale mais ou menos a oito mil milhas náuticas (14.800 km), o que situa Fusang em algum ponto da América Central. As correntes predominantes constituiriam um guia natural, já que fluem para o norte e em torno da costa leste asiática para o Alasca, e para o sul, ao longo do litoral, até o México.
Jeng He

O almirante Jeng He
era um explorador experiente. Depois de uma viagem à África Oriental, em 1405, o almirante presenteou o imperador com uma girafa, que muitos acreditavam na ocasião ser um animal mítico.
Na volta para a China, em 499 d.C., uma guerra civil impediu Hoei-Shin de obter uma audiência na corte imperial durante três anos. Em 502 d.C. ele finalmente se encontrou com o imperador Wu Ti. Impressionado, o imperador determinou que o depoimento de Hoei-Shin fosse incluído nos arquivos imperiais da dinastia Lang. O mito da viagem de Hoei-Shin passou para a cultura popular, inspirando exploradores chineses posteriores, talvez até mesmo o almirante Jeng He, com as histórias da misteriosa e erma Fusang.

É impossível determinar se os registros chineses são acurados. As histórias podem ter sido exageradas ou deturpadas. E mesmo que Hoei-Shin tenha pisado em solo americano, outros podem tê-lo precedido. Mas já há indícios suficientes para provar que a história da descoberta do continente americano é mais rica e complexa do que as escolas ensinam.
Incrível demais para ser falso

Obviamente é possível que a falsificação tenha sido feita sobre pergaminho medieval genuíno. Mas o falsificador precisaria de uma sorte extraordinária para achar um pergaminho da idade certa. “Se é uma fraude, o falsário foi com certeza um dos criminosos mais hábeis que já existiram”, concluiu um membro da equipe que datou o pergaminho.

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