terça-feira, 29 de novembro de 2011

Galileu Galilei

Ele foi um bon vivant sem a menor propensão para se tornar um mártir. Suas paixões eram aciência, vinhos e mulheres. Para escapar da condenação pela Inquisição, dizem que, enquanto se desmentia sobre a Terra se mover em torno do Sol, teria resmungado “mas que ela se move, se move”. O italiano Galileu Galilei foi um dos brilhantes espíritos da Renascença e está entre os mais importantes cientistas de todos os tempos.


Em sua trajetória entre os séculos 16 e 17 para desvendar e descrever boa parte do sistema solar como o conhecemos, viveu uma vida tempestuosa. Extrovertido, amante dos prazeres mundanos, dotado de um ávido apetite intelectual, impetuoso e presunçoso, ele buscou incansavelmente ser reconhecido por suas descobertas. Galileu fez parte de um grupo de pensadores que iluminaram a escuridão em que a mente humana estava mergulhada na Alta Idade Média.



Ele foi um dos fundadores da era científica. Muitas de suas descobertas alimentariam as revolucionárias teorias que Isaac Newton desenvolveria alguns anos após a morte do cientista italiano. Nas páginas a seguir, conheça um pouco da vida e das descobertas do polêmico Galileu Galilei.





galileu galilei
Reprodução


Este artigo é um resumo do livro “Galileu e o Sistema Solar em 90 minutos”, de Paul Strathern, da coleção “Cientistas em 90 minutos” da Jorge Zahar Editor, publicado em 1999.

Galileu: ciência, vinhos e mulheres




galileu galilei
© istockphoto.com / Steven Wynn
Ilustração que retrata Galileu Galilei
Um dia ele foi até o alto da inclinada Torre de Pisa e jogou objetos feitos do mesmo material e com pesos diferentes. Todos caíram à mesma velocidade. Ao contrário do que dizia Aristóteles, os mais pesados não caíram mais rapidamente. O jovem Galileu Galilei acabara de audaciosamente fazer uma demonstração pública de uma falha nos pensamentos do filósofo que dominava a vida intelectual há séculos.  


Essa ousadia fez parte de toda a vida desse polêmico cientista. Galileu nasceu em Pisa em 15 de fevereiro de 1564, três dias antes da morte de Michelangelo, e morreu próximo à Florença em 8 de janeiro de 1642, um ano antes do nascimento de Isaac Newton. Na infância estudou no mosteiro de Vallombrosa e ficou tão encantado com a vida monástica que decidiu tornar-se noviço. Mas seu pai o queria médico e aos 17 anos foi estudar na Universidade de Pisa. Naquele momento, a Renascença aflorava e a vida na Europa, das artes ao comércio, florescia.




Galileu desprezava os professores e arrogantemente os desmentia, o que provava que apesar de sua argúcia intelectual, lhe faltava argúcia social. Com a falta de desafios acadêmicos, o extrovertido jovem de cabelos ruivos frequentava tavernas e bordéis e as orgias tornaram-se rotineiras para ele. Seus interesses pela universidade só mudariam quando encontrou o matemático Ostilio Ricci, que viraria seu professor particular. Com ele, Galileu conheceu os pensamentos de Euclides e Arquimedes. Apesar disso, não conseguiu obter o diploma nos quatro anos que ficou na universidade.

Sem diploma e dinheiro, precisou que o pai usasse alguns contatos para que desse algumas aulas. Nesse período, ele já demonstrava seu brilhantismo em um ensaio e no aprimoramento de um experimento de Arquimedes. Realizou também uma polêmica conferência pública na qual revelou as dimensões e a localização geográfica do inferno descrito por Dante Alighieri em “A Divina Comédia”. Esse fato nonsense revela a contraditória visão de mundo de Galileu, que ao mesmo tempo aceitava o pensamento medieval de Alighieri e o analisava com a atitude inquisitiva do novo cientista que nascia.



Até perceber que necessitaria de um patrocinador para alcançar o que almejava – um cargo de professor em uma das universidades italianas que lhe garantisse renda e estabilidade – Galileu, com sua atitude combativa e arrogante, colecionou vários desafetos. Em 1589, no entanto, ele conheceu Guiobaldo Del Monte, um marquês também interessado em ciência e que havia publicado um tratado sobre mecânica. Del Monte se tornaria o mecenas aristocrático que Galileu necessitava e graças a ele conseguiu um emprego de professor de matemática na Universidade de Pisa. Ali começaria uma nova etapa em sua vida que abalaria as convicções dominantes sobre o mundo.

Galileu: o sistema solar e a Igreja


Em 1969, quando estava na superfície lunar, o astronauta Neil Armstrong deixou cair da mesma altura um martelo e uma pena. Quando ambos tocaram no chão ao mesmo tempo, ele afirmou: “Viram? Galileu estava certo”.



“Sobre o movimento” foi uma das primeiras obras de Galileu, mas, apesar de ser um dos mais originais pensamentos sobre o movimento em sua época, ele nunca a publicou. Nela, ele estabeleceu três leis do movimento: (1) todos os corpos caem da mesma altura em tempos iguais; (2) na queda, as velocidades finais são proporcionais aos tempos; (3) os espaços percorridos são proporcionais aos quadrados dos tempos. Galileu estava ciente de que a resistência do ar era uma interferência nessa queda, por isso sugeriu que a equivalência direta só ocorreria no vácuo.

Com essa e outras ideias polêmicas que contradiziam o pensamento aristotélico em vigor, ele acabou não tendo seu contrato renovado com a Universidade de Pisa. Galileu foi então lecionar na Universidade de Pádua, que era uma das melhores da Europa naqueles tempos. Foi lá que ele desenvolveu seu Compasso Geométrico e Militar, uma das investidas dele pelo mundo comercial, mas a única em que foi bem-sucedido.


Em 1599, Galileu conheceu Marina Gambá, uma beldade que se despia com facilidade. Como não ficava bem um professor universitário casar-se com uma prostituta, eles se tornaram amantes. Com ela, Galileu teve três filhos. Ele amou e cuidou muito bem de todos, sendo um excelente pai.



Na época do início de seu relacionamento com Marina, Galileu começou a se corresponder com Johannes Kepler, que havia sido assistente do astrônomo dinamarquês Tycho Brahe. Com a morte do astrônomo, Kepler seguiu e aprimorou as descobertas do mestre, que caminhavam na linha dos pensamentos de Copérnico. Pensamento que colocava o Sol no centro e os planetas girando em torno dele, num cenário em que a ideia aristotélica da Terra como o centro do universo e de um céu fixo e permanente era a oficial e dominante.

Nos anos seguintes, a invenção do telescópio daria a Galileu o instrumento necessário para definitivamente mudar a compreensão do sistema solar. Ele se empenhou em aperfeiçoar o instrumento e começou a explorar o céu de forma sistemática. Entre suas descobertas, estão os satélites de Júpiter, as manchas solares, as imperfeições da Lua. Suas observações do espaço provavam as teorias de Copérnico de que o Sol estava no centro de nosso sistema e que os planetas descreviam órbitas em torno dele. Mas não aceitou as evidências de Kepler de que essas órbitas eram elípticas. Continuou a achar que elas eram circulares.


Ao tornar público seu pensamento arranjou um enorme conflito com a Igreja e com os acadêmicos aristotélicos. Já com a fama de um dos maiores cientistas de sua Era, tentou defender sua causa diretamente no Vaticano, junto às autoridades eclesiais. Com a reação negativa da Igreja achou melhor se recolher, apesar de acreditar que a “Bíblia mostra o caminho do céu, mas não como o céu caminha”. Tentou seguir em seus estudos e investigações científicas sem criar controvérsias. No entanto, seu temperamento não era adequado a esse estilo de vida.



Em 1632, publica o “Diálogo sobre os dois principais sistemas de mundo, o ptolomaico e o copernicano”, obra em que quebrava o compromisso assumido anteriormente com a Igreja de não ensinar ou discutir o sistema copernicano, sob qualquer forma ou feição. O papa Urbano 8.° pediu a instalação de um processo da Inquisição contra o cientista. Sob interrogatório e com a condenação certa, ele arrefeceu, negando sua “ciência herética” o que levou a revogação de sua prisão. Em sua última década de vida, morando nos arredores de Florença produziu ainda a obra “Discurso sobre duas novas ciências”, em que sintetizou vários de seus pensamentos sobre mecânica e registrou as conclusões dos experimentos que fez durante sua vida. A obra contrabandeada para Paris chegou aos seus ex-alunos que naquele momento eram professores universitários espalhados pela Europa.



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